segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A Arte na vida

Para mim, a Arte como vista –hoje, está sendo sobrevalorizada. Poucas pessoas tem acesso á Arte, como parte integral de seu cotidiano. O que ocorre com os artistas é que eles não são parte da chamada população ''normal'', mas sim seres que tentam se desvencilhar da vivencia social, encarecendo seu trabalho perante os não-artistas.

Eu, como escritor nas horas vagas, noto este fato. Mesmo que tenha começado a escrever meu livro, recebo conselhos das pessoas, dizendo que devo ter cuidado com o que faço, pois entre os autores brasileiros, apenas Jorge Amado e Paulo Coelho puderam dizer que que viveram do que fizeram; logo, devo tentar ser um Jorge Coelho, se quiser ter o mínimo de sucesso.

O que noto, também, é que pelo fato de ninguém levar os artistas a sério, em muitos casos com razão, eles exageram a importância social de seu trabalho, ao mesmo tempo que separam do resto dos afazeres humanos; também desclassificam o que chamam de arte industrial( pagode, axé, etc...), como sendo mero produto mercadológico, e principal inimiga de suas produções, quando na verdade é o pressuposto do alto que preço que suas obras atingem, e é guiada pelos mesmos grupos que os patrocinam. Clama-se há muito tempo a ''decadência'' e a ''pós-decadência'', fazendo-se aparecer de tempos em tempos cavaleiros das letras/pincéis/palcos que prometem salvar o dia.

sábado, 22 de junho de 2019

Cordel a Jaguatirica e a Onça- Teaser

Parte do texto de um cordel que lançarei daqui a algum tempo, quando tiver os recursos para tal. 

Ilustração: Tsukijinja.

A Jaguatirica e a Onça
Por serem primos de raça
De vez em quando saíam
Para pegar uma caça
Para zoar com o primo
A Onça começou a pirraça:

João Tirica rapaz
Voce é mesmo o cara
Pra pegar coisa pequena
Eu num dia pego dez capivaras
Mas mico igual a ti não apanho
Pois meu peso quebra as varas

Onça Armando assim fez o ‘’elogio’’
João entendeu a safadagem
Porém se fez de abestado
Por gostar de molecagem
Já tinha o seu preparado
Pra se vingar dessas bobagens

A Armando ele respondeu
Que era melhor em tudo
E pra garantir ele apostava
O outro se fez de surdo
Achando que e ele era doido
De se medir com o bonzudo
Pra não passar por medroso
Aceitou a aposta absurda
Quem ganhasse era o bom
O outro cão de rua
E quem perdesse dos dois
Que fosse tomar... suco de uva

Os termos diziam
Que ao fim de dez semanas
Seria o caçador mais bacana
Quem trouxesse mais carne fresca
Pra medir com um pé de cana

Jogaram uma moedinha
Pra ver quem ia primeiro
Ganhou o Onça
Apesar de João ser trapaceiro
Armando comemorou

E se saiu ligeiro

(...)

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Conto: Os Pombos

Parte do meu livro ainda em processo de edição, Cinzacombolinhasbrancas e outras fábulas empreendedoras. Ilustração por Cecília Reis.

O tanque de água da praça era o ponto de encontro de todos os pássaros. Ali se encontravam os cucos, os tordos, as cotovias, os beija-flores após suas horas de trabalho, e mais importante, os numerosos e vicejantes pombos. Os pombos viviam competindo entre si para saber quem tinha o melhor arrulho (aquele som que se pode ouvir os pombos fazendo quando se chega perto deles: ‘’rut rut rut’’) da vila. Eles estavam com muita vontade de enviar um time para participar da Competição de Arrulho do Distrito. No time local, havia dois primos, Tinho e Zinho. Tinho, o mais velho, estava sempre discorrendo sobre seu elevado conhecimento da arte de arrulhar, tendo viajado por várias cidades ao redor do mundo (o mundo até a fronteira do próximo distrito, do outro lado do rio), conhecendo pombos de todos os lugares e seus arrulhos típicos, com seus dialetos e sotaques. Tinha também aprendido Teoria Arrulhal com um velho pombo aposentado que já tinha parado de arrulhar competitivamente.

-Primo, - dizia Tinho a Zinho uma vez ou outra, - seu arrulho é bastante bom para uma técnica tão simples e instintiva como a que você possui até o momento. Você aprendeu ouvindo o arrulho de outros colegas e compassando-o pelas gotas de água que ficam caindo do tanque para o chão. Para seu nível, isso é de fato excepcional, mas você nunca entenderá a verdadeira arte e ciência do arrulho em seu profundo significado cósmico e desdobramentos holísticos, visto que nunca a estudou do jeito que deveria ter sido verdadeiramente estudada. Eu, por minha vez, possuo o pequeno defeito de nunca ter sido um arrulhador prático devido à grande concentração necessária para ser um afinado conhecedor do assunto. Mas algo eu garanto: comigo como treinador inquestionável do nosso time, aliando minha cultivada capacidade crítica ao seu florescente talento atávico, e o carisma que você projeta sobre o resto do time, penso que podemos prevalecer sobre adversários com muito mais tradição, e, sem dúvida, voltaremos como o melhor time de arrulho e treinador de todo o distrito e quiçá do Estado.

-Que assim seja primo. - respondia, pacientemente, Zinho.

Quando o dia da grande competição se aproximou, o time e seu confiante treinador se prepararam para voar para a cidade-sede, aonde chegariam bem a tempo de a competição começar. Antes de saírem, Tinho recomendou:

-Pessoal, vamos voar e ficar juntos. Uma vez, tio Ninho estava nas ruas da capital, meditando sozinho a sua obra-prima que poderia garantir a primeira vitória de nossa vila na competição, mas um gato pulou sobre ele a partir de uma direção não prevista, e sumiu rapidamente com seu corpo para nunca mais ser visto. Vamos vencer, para honrar a emérita história de nossa municipalíssima vila, e a saudosa memória de nosso grande tio Ninho, querido irmão de alguns de nossos pais e filho de nossos amados avós, e além do mais nosso parente próximo!-

Os outros membros de time e os frequentadores do tanque deram vivas e o time partiu, voltando após alguns dias. Traziam alegremente uma Menção Honrosa, o primeiro prêmio efetivamente ganho pela vila. Os dois primos, porém, voltaram muito diferentes: enquanto Zinho estava falador e faceiro, sempre disposto a conversar com os que vinham lhe felicitar pela vitória, Tinho aparentava estar chateado e envergonhado, sem querer falar com ninguém. Zinho dizia para quem quisesse ouvir, que sem Tinho eles não teriam tido a performance que tiveram, enquanto andava orgulhosamente com a Menção Honrosa no peito, acompanhado pelo resto do time. Tinho evitava fazer o mesmo, e chegou até a censurar o primo uma vez, de forma discreta, mas veemente, por ser muito orgulhoso. Passada a surpresa inicial com o prêmio, todos ficaram ainda mais curiosos com a mudança de Tinho, e começaram a questionar Zinho sobre o que de fato aconteceu na capital, visto que Tinho respondia a todas as perguntas com evasivas. Os outros pássaros confiaram a um beija-flor com o qual Zinho treinava voo estático, a tarefa de fazê-lo revelar mais detalhes. Após uma das aulas, Zinho, cansado de esconder o que não lhe parecia um grande segredo, acabou contando:

-Em todos os times tivemos de fazer nossos arrulhos individualmente, um após o outro, depois de uma pequena dissertação de cada treinador sobre as peças de arrulho selecionadas para seus competidores. Os outros treinadores fizeram apresentações curtas e concisas, que todas juntas não deram o tempo de meia peça de arrulho. Primo Tinho, porém, sobrerrepresentou todos eles. Fez uma grandiosa apresentação, demonstrando o talento natural de nosso time comparado a artificiosidade dos outros, e falou sobre como seu duro trabalho intelectual aprimorou o atavismo de nossas performances como indivíduos e como grupo, em arrulhos perfeitos executados da maneira mais primorosa e correta. Após isso, dentro do tempo que tinha sobrado após o discurso de primo Tinho, nós executamos o toque de chamada de nossas peças, e aguardamos a pontuação dos juízes. Chegamos a ouvi-los falar entre si sobre conhecerem Tinho das antigas viagens que ele fez as vilas e cidades deles, e depois, por alguma razão, fazerem todos expressões de aborrecimento que nos amedrontaram. Chegamos até mesmo a achar que seriamos desclassificados ou punidos de alguma forma. Porém no final, quando os vencedores dos três primeiros lugares receberam suas medalhas, os juízes fizeram uma declaração nos concedendo unanimemente a Menção Honrosa por termos conseguido apresentar ao menos nossos toques de chamada tendo primo Tinho como treinador. -

Após a explicação de Zinho, Tinho foi tão ridicularizado na própria vila, após já ter sido humilhado na competição, que voou para longe, seguindo uma esquadrilha de gansos que estava migrando para o Norte. Após algumas gerações, aprimorando os métodos de Ninho e Zinho, o time da vila eventualmente chegou a ganhar um 4º lugar, e passou a conseguir se manter regularmente na segunda divisão. Mas aquilo que todos mais se lembravam, com saudade, foi de quando conseguiram um prêmio que não foi dado nem aos melhores times, graças tão somente a reputação de seu treinador.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Redação Premiada: Os Surdos

Feita para o ENEM 2017. Me garantiu a entrada na UNILAB, no curso de Bacharelado em Humanidades.


''Desafios para a formação educacional dos surdos no Brasil''


      A exclusão dos deficientes auditivos no Brasil já começa na televisão: não há legendas(closed caption) adequadas na maioria dos programas veiculados, deixando os surdos e semi-surdos excluídos de um dos vetores de socialização de nosso país. A inclusão dos alunos surdos também vem decrescendo nos últimos anos, seja nas escolas regulares, seja nas especiais.

     Isso é alarmante, visto que nosso sistema escolar não atende sequer as demandas dos alunos regulares, o que cria para os alunos PCD(Pessoas com deficiência) uma dupla exclusão; serem ponta mais frágil de um sistema hipossuficiente.

      Entre as soluções, estariam a federalização da educação junto com a criação de uma fundação nacional que monitorasse os alunos especiais desde seu diagnóstico, e ficasse responsável pelo seu progresso no sistema educacional, seja privado ou público.

    Tal fundação, com recursos e pessoal tanto da Educação como da Saúde, desenvolveria materiais e abordagens adequadas ao público surdo-mudo, garantindo seu sucesso no sistema educacional, e posteriormente, no mercado de trabalho.

     A essa iniciativa poderia se somar uma legislação que obrigasse qualquer empresa que recebesse empréstimos públicos de grande vulto, a promoverem políticas de inclusão para pessoais especiais, havendo uma cota específica para surdos-mudos além daquelas que já existissem para deficientes. Tais políticas garantiriam aos surdos-mudos conseguirem empregos, depois de já terem completado sua formação.

A Crítica

No passado moderno, anterior a era contemporânea, pós-moderna e pós-pós-moderna, a Literatura era definida como as obras estritamente literárias: texto sobre um suporte fixo, ou tendente a ser fixável, e indexável de uma forma coerente. Assim, existiam não só o alto cânone e as obras de massa, definidos pela crítica especializada e pelo grande público, como passaram a ser aceitas como parte de uma literatura menor, com ‘’l’’ minúsculo, textos meta literários ou referenciais; o jornalismo diário, guias de TV, romances de aeroporto feitos de forma padronizada, roteiros de telenovela e seriados industrializados.

 A contemporaneidade confundiu ainda mais essa situação. A emergência dos filmes interativos,  videogames e da internet, das obras não-lineares e de autoria difusa, mas, ainda assim, imbuídas de enredo e regras de narrativa, tornaram a antiga distinção entre ‘’Literatura’’ e ‘literatura’’ ainda mais questionável, porque nos espaços digitais não raro os grandes críticos emergem da própria massa do público, e não possuem poder para realizar avaliações para realizar avaliações puramente qualitativas que não possam ser questionadas.

 Nos espaços virtuais, as avaliações têm de ser quantitativas, e são confrontadas em pouco tempo com a avaliação da massa consumidora. Nesse cenário, é possível que a distinção entre as obras com valor literário no sentido clássico e as obras de massa permaneça, mas maneira que as primeiras serão oferecidas ao público tenderá a se tornar parecida com as segundas. O fim da sacralidade da crítica significará que o autor não poderá mais usar mais a pura presunção de qualidade como diferencial, e terá de procurar diretamente o público para ser ouvido.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Resenha: Eu Sou a Lenda



Este livro é mais conhecido como ''Eu sou a lenda'', uma tradição mais fiel do seu título original norte-americano. Conta a história de Robert Neville, um homem que se tornou o último sobrevivente conhecido de um apocalipse biológico que converteu a raça humana em vampiros sugadores de sangue, que saem a noite atrás dos últimos mortais que sobram na Terra. 

Neville passa as noites, o momento em que os vampiros estão ativos, trancado numa casa que converteu em fortaleza contra os infectados, e os dias refazendo as proteções danificadas pelos adversários, e procurando por suprimentos e sobreviventes. Até que um dia, finalmente, localiza uma outra sobrevivente, que inicialmente foge dele, mas acaba convencida a vir a sua casa. Lá, Neville mostra a ela as pesquisas feitas sobre as causas do vampirismo, e como ele tem conseguido eliminar a maior parte dos vampiros durante os dias.

Só que Neville acaba descobrindo sobre sua hóspede mais do que gostaria de saber... cessam aqui os spoilers do livro, que também ganhou uma versão em quadrinhos.



O filme de 2007, com Will Smith a terceira adaptação conhecida da obra para os cinemas, dá a história original um tratamento interessante. Dessa vez, o meio de infecção não é uma bactéria exótica, mas um vírus alterado geneticamente para realizar a cura do câncer- que dá tremendamente errado, matando boa parte da humanidade e convertendo a maioria dos restantes em mutantes canibais. Nessa versão, Neville é um virologista treinado que vive numa Nova York tomada por animais selvagens e pela versão do filme dos infectados, que busca diariamente a cura para o vírus dentro de um laboratório em sua casa. 

A atuação de Will Smith, que contracena com um pastor alemão fêmea, é convincente em mostrar como acaba ficando um ser humano isolado por tanto tempo. O mais surpreendente é o final do filme, que tem uma mensagem cristã subjacente- de sacrifício abnegado de uma pessoa pelo resto da humanidade. O final alternativo, que não foi para os cinemas, é ao meu ver ainda melhor do que o final escolhido pelos roteiristas, pois passa uma mensagem de perdão e compreensão.

Ao final, o filme acaba tendo uma abordagem grandemente diferente do livro; o Neville que passa a ter de aceitar como inevitável o triunfo da nova sociedade baseada na violência contra o diferente é distinto do Neville que salva a civilização ocidental tradicional com sua própria morte ou do Neville que consegue criar empatia com os monstros que perseguiu a vida toda.

Assim, o livro original, e o filme com seus dois finais acabam não sendo obras de uma mesma linha, mas sim textos radicalmente diferentes entre si, tendo cada um seu valor artístico-e não sendo cada uma melhor nem pior do que as outras, mas sim abordagens diversas para uma mesma ideia.

Valem a pena a leitura e a assistida.

Hagakure Samurai


A resposta japonesa para A Arte da Guerra. A descrição escrita do código não escrito dos samurais, o Bushido. Basicamente, um manual de cabra-macheza escrito por um cabra-macho aposentado da Era Feudal japonesa, que tendo sido proibido de cometer suicídio após a morte de seu mestre, se dedicou a ditar para um samurai mais jovem o que considerava ser o jeito certo de viver e morrer; ou como diz o texto, ''viver como se já não estivesse vivo''. O livro é melhor explicado por algumas de suas próprias passagens:

''Se você fortalecer seu coração a cada manhã e cada noite, poderá viver como se já estivesse morto, ganhando liberdade no Caminho. Sua vida toda será vivida sem culpa, e cumprirá sua missão''.

''Quando escreve-se uma carta, deve-se pensar que o recebedor vai querer usá-la para decorar a parede da sala.''

''Ponha coleira até mesmo numa galinha já assada.''

 ''Se alguém está seguro nas suas fundações, não sentirá pela divergência de detalhes ou assuntos menores que são contrários as expectativas. Mas no final, os detalhes de um problema são importante. O certo ou errado do jeito de alguém fazer as coisas são encontrados nas questões triviais.''

''Ao escrutinar os assuntos do passado, descobrimos que há muitas opiniões diferentes sobre eles, e que há algumas coisas que são bastante obscuras. É melhor considerar tais coisas como não conhecíveis.''

''O significado básico da etiqueta é ser rápido no início e fim e tranquilo no meio.''

''É preciso seguir como uma lagarta, pouco a pouco. Os deuses e budas, também, começaram com um mero juramento.''



Redação CBMBA- Tecnologia

A tecnologia pode dar suporte a Segurança Pública numa questão bastante óbvia: diminuir a quantidade de pessoal administrativo e permitir co...