Existem dois tipos de abordagens de investimentos: aquela na qual o investidor especula ao máximo e busca parar de mexer no mercado quando percebe quando ele vai estar em baixa, e outra na qual o investidor mantém constantemente suas posições em negócios que acredita. Nenhuma das duas é melhor ou pior que a outra, e inclusive há investidores que adotam as duas em mercados diferentes, a depender do que queiram fazer em cada momento.
Ironicamente, isso também se aplica ao ramo do
entretenimento: saber a hora de parar quando as coisas não estão indo muito
bem, ou quando vão deixar de ficar boas. Observe-se o caso de John Lasseter, da
Disney: ele ajudou a supervisionar a aquisição da Pixar, um crescimento no
público dos parques na Disney, e uma mudança nos roteiros da Disney que os
deixou mais focados em temas como empoderamento e diversidade.
No entanto, começarem a crescer alegações de
comportamento inapropriado por parte dele. Ele poderia tentar resistir e manter
o cargo mesmo apesar das alegações, que ainda não tinham virado acusações
formais. Porém, tendo grande respeito pelo que ajudou a construir, ele preferiu
renunciar ao cargo e deixar a empresa seguir sem ele, sabendo que haveria
pessoas capacitadas para continuar o trabalho.
Caso um pouco diferente ocorreu com George Lucas. Ele
criou a franquia Star Wars com grande amor e carinho, buscando passar uma
mensagem de fé na bondade humana e de respeito pela democracia. Ele não deixou
de cometer erros nesse processo: a segunda trilogia e as mudanças feitas na
trilogia original receberam muitas críticas, assim como o resto do material
derivado.
Houve um momento que parte das pessoas que criticavam,
porém, passaram a perseguir Lucas e o resto da equipe, fazendo exigências
pesadas em relação ao conteúdo da franquia. Lucas acabou vendendo a franquia de
porteira fechada para a Disney, cujo novo material passou a receber mais
críticas ainda, algumas de fato merecidas. No entanto, isso não era mais
problema de Lucas: ele teve o desprendimento de passar seu trabalho adiante,
quando ele já havia feito tudo que julgava bom fazer.
Os casos desses dois líderes são exemplos do quando
saber sair: Lasseter porque cometeu erros graves e não queria ver sua companhia
pagar por eles, e Lucas porque estava cansado de administrar uma fanbase
mimada e queria poder aproveitar sua velhice. Tomar esse tipo de ação exige uma
grande capacidade de saber que não tem mais condições de ganhar, que já se
marcou todos os pontos que poderia. Isso muitas vezes acaba sendo mais
importante do que saber jogar bem, porque impede que você dobre contra a casa.
Ainda que não cometamos o tipo de má conduta que
Lasseter cometeu, podemos errar em outros variados tipos de coisas, e isso ser
irrecuperável. Ou podemos, como Lucas, construir um projeto com toda a
dedicação, e sermos obrigados a passar mais tempo administrando a parte chata
dele do que aproveitando a parte boa. Nesses momentos, a gente tem que
reconhecer que, por melhor que sejamos, é necessário passar a bola para quem
possa continuar o jogo.
Isso significa sair de certos círculos de amizade
antes que atritos estourem, abrir mão de projetos que não estão indo muito bem
antes que tenhamos colocado muito trabalho neles, e saber controlar nosso lado ruim
para evitar que más condutas acabem virando práticas recorrentes.
Isso me lembra da história sobre como George Foreman
ganhou o contrato do grill. Os engenheiros de uma certa empresa tinham
projetado um grill de primeira qualidade, mas que não se diferenciava muito do
que existia no mercado. Eles procuraram um esportista para ser
garoto-propaganda do produto. Eles fizeram uma lista de nomes, e quase todos
foram descartados após se verificarem as acusações que cada um deles tinha.
Então surgiu o nome de Foreman. Ele não era nem de
longe o esportista com mais desempenho na lista, mas nem ele nem sua família
tinham acusação de nada nem apareceram em nenhuma controvérsia na mídia. Os
executivos da empresa procuraram Foreman, então aposentado após uma carreira de
anos no boxe. Filmaram com ele um propaganda do grill, nomeado em sua
homenagem: o resto é história. Foreman tinha ganho algumas dezenas de milhões
de dólares com uma carreira de décadas no boxe: com o grill, sua fortuna saltou
em poucos anos para algumas centenas de milhões.
O caso de George Foreman se diferencia do de Lucas não
tanto porque ele soube a hora de sair, mas também como entrar. Ele queria viver
uma vida virtuosa porque suas crenças o motivavam a isso, e isso acabou
potencializando o que ele tinha construído com sua carreira. Sua carreira foi
importante para chamar atenção, sua boa imagem o ajudou a não ser descartado.
Assim é com nossas carreiras. Seguindo o exemplo de George Foreman e George
Lucas, o que interessa é: saber como fazer nossa entrada, e quando e como fazer
nossa saída. Quando se faz isso, o sucesso acaba vindo sem fazer força, como
consequência de uma série de boas ações.
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