sábado, 25 de janeiro de 2025

A Hora de Saber Sair

Existem dois tipos de abordagens de investimentos: aquela na qual o investidor especula ao máximo e busca parar de mexer no mercado quando percebe quando ele vai estar em baixa, e outra na qual o investidor mantém constantemente suas posições em negócios que acredita. Nenhuma das duas é melhor ou pior que a outra, e inclusive há investidores que adotam as duas em mercados diferentes, a depender do que queiram fazer em cada momento.

Ironicamente, isso também se aplica ao ramo do entretenimento: saber a hora de parar quando as coisas não estão indo muito bem, ou quando vão deixar de ficar boas. Observe-se o caso de John Lasseter, da Disney: ele ajudou a supervisionar a aquisição da Pixar, um crescimento no público dos parques na Disney, e uma mudança nos roteiros da Disney que os deixou mais focados em temas como empoderamento e diversidade.

No entanto, começarem a crescer alegações de comportamento inapropriado por parte dele. Ele poderia tentar resistir e manter o cargo mesmo apesar das alegações, que ainda não tinham virado acusações formais. Porém, tendo grande respeito pelo que ajudou a construir, ele preferiu renunciar ao cargo e deixar a empresa seguir sem ele, sabendo que haveria pessoas capacitadas para continuar o trabalho.

Caso um pouco diferente ocorreu com George Lucas. Ele criou a franquia Star Wars com grande amor e carinho, buscando passar uma mensagem de fé na bondade humana e de respeito pela democracia. Ele não deixou de cometer erros nesse processo: a segunda trilogia e as mudanças feitas na trilogia original receberam muitas críticas, assim como o resto do material derivado.

Houve um momento que parte das pessoas que criticavam, porém, passaram a perseguir Lucas e o resto da equipe, fazendo exigências pesadas em relação ao conteúdo da franquia. Lucas acabou vendendo a franquia de porteira fechada para a Disney, cujo novo material passou a receber mais críticas ainda, algumas de fato merecidas. No entanto, isso não era mais problema de Lucas: ele teve o desprendimento de passar seu trabalho adiante, quando ele já havia feito tudo que julgava bom fazer.

Os casos desses dois líderes são exemplos do quando saber sair: Lasseter porque cometeu erros graves e não queria ver sua companhia pagar por eles, e Lucas porque estava cansado de administrar uma fanbase mimada e queria poder aproveitar sua velhice. Tomar esse tipo de ação exige uma grande capacidade de saber que não tem mais condições de ganhar, que já se marcou todos os pontos que poderia. Isso muitas vezes acaba sendo mais importante do que saber jogar bem, porque impede que você dobre contra a casa.

Ainda que não cometamos o tipo de má conduta que Lasseter cometeu, podemos errar em outros variados tipos de coisas, e isso ser irrecuperável. Ou podemos, como Lucas, construir um projeto com toda a dedicação, e sermos obrigados a passar mais tempo administrando a parte chata dele do que aproveitando a parte boa. Nesses momentos, a gente tem que reconhecer que, por melhor que sejamos, é necessário passar a bola para quem possa continuar o jogo.

Isso significa sair de certos círculos de amizade antes que atritos estourem, abrir mão de projetos que não estão indo muito bem antes que tenhamos colocado muito trabalho neles, e saber controlar nosso lado ruim para evitar que más condutas acabem virando práticas recorrentes. 

Isso me lembra da história sobre como George Foreman ganhou o contrato do grill. Os engenheiros de uma certa empresa tinham projetado um grill de primeira qualidade, mas que não se diferenciava muito do que existia no mercado. Eles procuraram um esportista para ser garoto-propaganda do produto. Eles fizeram uma lista de nomes, e quase todos foram descartados após se verificarem as acusações que cada um deles tinha.

Então surgiu o nome de Foreman. Ele não era nem de longe o esportista com mais desempenho na lista, mas nem ele nem sua família tinham acusação de nada nem apareceram em nenhuma controvérsia na mídia. Os executivos da empresa procuraram Foreman, então aposentado após uma carreira de anos no boxe. Filmaram com ele um propaganda do grill, nomeado em sua homenagem: o resto é história. Foreman tinha ganho algumas dezenas de milhões de dólares com uma carreira de décadas no boxe: com o grill, sua fortuna saltou em poucos anos para algumas centenas de milhões.

O caso de George Foreman se diferencia do de Lucas não tanto porque ele soube a hora de sair, mas também como entrar. Ele queria viver uma vida virtuosa porque suas crenças o motivavam a isso, e isso acabou potencializando o que ele tinha construído com sua carreira. Sua carreira foi importante para chamar atenção, sua boa imagem o ajudou a não ser descartado. Assim é com nossas carreiras. Seguindo o exemplo de George Foreman e George Lucas, o que interessa é: saber como fazer nossa entrada, e quando e como fazer nossa saída. Quando se faz isso, o sucesso acaba vindo sem fazer força, como consequência de uma série de boas ações.

 

 

 

 

 

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