sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Master of Orion


Minha primeira experiência com Master of Orion foi há alguns anos, quando eu, quebrado como sempre, procurava jogos gratuitos na internet. Achei uma alternativa que não era pirataria: um site de jogos abandonware, cujos direitos tinham sido há muito tempo deixados para trás para suas produtoras. Achei joias maravilhosas em meio a eles, inclusive o primeiro Master of Orion. Esse jogo foi um dos primeiros 4X, surgindo na época de Civilization e Sid Meier´s Pirates, que também tive oportunidade de jogar.

Ele rodava num emulador Dosbox, que o site também tinha para baixar. Cada seção de jogo era única. Você definia os parâmetros de uma galáxia, quantas raças haveria nela, e então o jogo gerava um cenário de acordo com isso, que variava ainda mais graças a eventos aleatórios que davam ainda mais sabor ao jogo.

Cada raça tinha características próprias, como talento para a espionagem, diplomacia no caso dos humanos, habilidade com naves, maior fertilidade etc. o que tornava o jogo meio quebrado era que ter avanços nas pesquisas dava vantagens enormes em quase todo o resto, o que fazia os Psylons saírem na frente em quase todos os cenários que estivessem presentes.

O que era comum a todas as galáxias geradas, e que na parte central de uma delas, haveria sempre uma nave superpoderosa, que atacava qualquer um que se aproximasse dela. Quem a tirasse do caminho poderia conquistar o planeta título do jogo, Orion, que tinha artefatos raros que davam vantagens ao seu possuidor.

O jogo fazia referências a várias obras de ficção científica nos nomes das armas e itens destravados à medida que se avançava na árvore tecnológica, quando se obtinham equipamentos capazes de destroçar armadas e planetas inteiros com poucos ataques. Antes de chegar a esse nível, porém, havia algo a se olhar: o jogo tinha uma interação política muito bem programada onde você realizava comércio e trocava tecnologias com outras raças, e um Senado Galático onde poderia se vencer o jogo sendo eleito líder da Galáxia.

Se você fosse eleito, vitória imediata. Se um rival fosse eleito, você poderia aceitar a supremacia dele ou tentar desafiar todo o resto da Galáxia sozinho, numa batalha bastante ingrata e com pouca chance de vitória. O primeiro MoO tinha algo um tanto pesado, devido ao fato de só ser possível conquistar planetas exterminando a população inteira presente nele.

Os títulos posteriores se tornaram mais complexos, adicionando além da possibilidade de criar raças novas, tomar populações diferentes ao seu Império, tendo que administrar seus diferentes gostos e inclinações. Eu joguei o novo MoO e não fui muito longe nele, achando o MoO antigo mais simples e direto.

Ele tinha algumas sacadas maravilhosas, a exemplo do cuidado com a ecologia. Ele possuía diferentes tipos de planetas a serem colonizados, alguns com mais minerais, outros intermediários, outros com uma natureza mais abundante. Os planetas com mais minerais possibilitavam uma indústria mais próspera, e os com boa natureza permitiam a população se multiplicar mais.

Quanto mais indústria você tivesse, mais créditos você teria para construir seu Império, mas a indústria gerava poluição que afetava negativamente a população, que administrava as indústrias. Você tinha que manter em cada planeta um equilíbrio entre produção industrial e cuidados ecológicos para possibilitar sua população e indústria crescerem ao mesmo tempo. Deixar essa relação desequilibrada ao ponto de se gerar poluição quase nunca compensava. Quando pesquisas eram realizadas, você podia investir em terraformagem que aprimorava os biomas de cada planeta, ao ponto de transformar desertos radioativos em florestas verdejantes com o tempo.

Era maravilhoso ver cada planeta evoluindo a ponto de poder receber sua população máxima, cheio de indústrias que não geravam quase nenhuma poluição. A relação com os outros Imperadores era algo que também se evoluía com o tempo: quase sempre compensava estar em boas relações para fazer comércio com todo mundo que se pudesse, mas a gente ia aprendendo que tinha tecnologias que não valia a pena trocar por nada porque davam a eles grandes vantagens em troca de muito pouco.

Quase igual a gente tem que fazer na vida real com outras pessoas. Resumindo tudo: o antigo MoO é uma experiência sem igual, que vale cada hora investida nele, pois é um clássico que não envelhece e tem muito a ensinar. Quer você queira aprender sobre gestão, quer sobre criação de jogos, quer sobre ecologia e relações políticas, jogar algumas partidas de MoO vão te mostrar que com simplicidade e solidez, se chega longe.







 


domingo, 3 de dezembro de 2023

Sobre Lampião e outras figuras


L: Gente, uma senhora, amiga de minha esposa, me presenteou com esse livro. Acho que ela quer me doutrinar. Alguém aí já leu?

D: Isso só pode acontecer em um país que ainda respira um pouco de democracia, se fosse um país com a ditadura explícita, jamais um livro desses seria publicado.

N: É uma questão espinhosa. A esquerda tenta construir uma narrativa fajuta em torno do cangaço e de Canudos, como se Lampião e outros cangaceiros fossem precursores de Che Guevara, e Canudos uma espécie de comuna socialista libertária.

L: Entendo a complexidade. Mas confesso que tenho um preconceito com esse cidadão: o fato de ter no currículo ''Os Pingos nos is'' e Olavo de Carvalho na lista de referências turva meu julgamento. Vou tentar ler, não sei quando. Depois comento por aqui.

N: Tipo man... vou te confessar: é literatura merda no estilo de Pondé. ''Guia babacamente incorreto de apontar dedo na cara da esquerda e dizer mitei'' O cara desmitifica Lampião, Conselheiro, Zumbi, Caramuru, etc... mas nunca vai deixar tocarem no Borba Gato e no Carlos Lacerda. É o tipo de critiquinha bem hipócrita e escrota, feita pra sulista se achar mais civilizado. Eu acho Lampião um m*rda, mas entendo isso como nordestino que não precisa dele tendo figuras melhores. Agora um sulista vir dizer isso eu mando logo se f%d#r.

L: O que acho temeroso é quando sentenciam, quando querem explicar uma situação complexa com simplificações.

N: A gente teve figuras como Jesuíno Brilhante, Cipriano Barata, Luiz Gama, entre outros, que ainda assim os sulistas iam falar mal se a gente exaltasse. Aí atacam Lampião porque sabem que nosso orgulho é ligado a ele. O problema pra eles não é o que Lampião fez, é a gente ser feliz com alguma coisa. Não dou atenção pra esses vermes. Se puder, pegue o livro e deixe de comprar papel higiênico por um tempo, se é que você me entende. Esse tipo de material só presta pra isso.

domingo, 26 de novembro de 2023

Adeus, Jayme Figura


 Fiquei sabendo agora a pouco da perda de Jayme Figura. 

Isso termina uma era em Salvador. Me lembro de crescer vendo ele passando em meio aos carros e ônibus nas ruas centrais da cidade, andando em meio aos veículos como se fosse um deles. O que, coberto de latarias de metal, ele praticamente era, se você for pensar bem.  Era o Transformer humano, um Dom Quixote sem cavalo. Ouvi inumeráveis lendas sobre como ele se tornou o que era. Diziam que ele era um cara muito rico, que passou a achar a riqueza sem propósito, antecipou a herança da família, e pegou o pouco que sobrou para morar num sarcófago no Pelourinho.

Outros diziam que era simplesmente um cara que entrou em surto, abandonou o emprego e passou a peregrinar nas ruas da cidade, sempre com o rosto coberto com a máscara de ferro do príncipe de Alexandre Dumas. Havia quem dissesse que ele era casado e a esposa não fazia objeção ou não tinha como se opor ao que ele fazia. Alguma ou nenhuma de todas essas histórias pode ser verdadeira, mas acredito que isso não seja o que de fato interessa. Cheguei a apertar a mão a dele uma vez, há muitos anos, numa lanchonete. Não me lembro se ninguém sequer cobrava o que ele pedia. Ele apertava as mãos de todos, fazia mesuras respeitosas para as moças. Era saudado pelas pessoas, respondia os conhecidos, e em pouco tempo, continuava sua saga soteropolitana. Provavelmente nunca vamos saber porque ele realizava sua performance, ou se sequer encarava seu ato como performance e não como outra coisa. Isso permanecerá debaixo da máscara. 

O que nunca esquecerei é de como até os ônibus tentavam adequar suas rotas para evitar machucá-lo, como se máquinas carregando mais de 40 pessoas em pé e 60 pessoas sentadas fossem menos importantes que um simples andarilho, que seguia seu caminho metálico enquanto as outras pessoas circulavam dentro de caixas de metal e de vidro. Ele poderia estar tentando dizer alguma coisa, ou apenas achava legal andar com uma armadura completa debaixo de um sol de 40 graus. Que isso tenha mais propósito do que boa parte do que estamos fazendo, talvez tenha sido o que ele quis dizer o tempo todo. Adeus, querido Figura.

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Resenha - Ungido para os negócios – Pastor Ed Silvoso



Comprei o livro do Pastor Silvoso numa igreja em Santo Antônio de Jesus, e passei um bom tempo com ele guardado. Quando finalmente o li, achei algumas lições valiosas. Ele parte de uma tese interessante: não haveria distinção entre o campo espiritual e o laboral, chamado aqui pelo pastor de ‘’o mercado’’:  ambos sendo parte da luta divina para salvar a humanidade.

Para sustentar essa tese o pastor cita exemplos da vida de Jesus e do apóstolo Paulo, mostrando como eles priorizavam o lado prático da vida ao invés de sustentarem uma espiritualidade puramente ascética.  Silvoso diz que o cristão que tem experiência na vida prática pode ser valioso para a igreja de muitas maneiras, seja conseguindo fundos para os projetos, seja resolvendo imbróglios administrativos, sem perderem a sensibilidade espiritual.

Assim sendo, ele considera que seria um erro as congregações promoverem o divórcio de seus membros com o mundo, pois é justamente nele que as batalhas mais importantes são travadas. Eu reinterpretei as palavras do pastor para o contexto político: existem muitos partidos e grupos que impõem a seus membros uma carga teórica excessiva e a exigem deles comportamentos dogmáticos, que os tornam estranhos na sociedade.

Essa forma de agir se torna contra produtiva, pois isola essas pessoas das massas que eles dizem querer representar. A solução, como apresenta o Pastor Silvoso, é saber se integrar na sociedade e nas empresas, para a partir daí gerar mudanças. A lógica da relação com o dinheiro que o livro apresenta também é muito interessante. O autor diz claramente que não é nenhum socialista, mas diz que a busca do lucro não deve ser o enriquecimento por si mesmo.

Deve se ao invés disso buscar fortalecer a comunidade, administrando os bens públicos e privados de forma competente, cobrando preço justos e acessíveis, e às vezes perdoando algumas dívidas quando se percebe que a pessoa ou empresa está sem a menor condição de pagá-las por mais que deseje.

Desta forma, o abismo entre ricos e pobres diminuiria, havendo menos injustiças. Ainda que não concorde teologicamente ou filosoficamente com tudo o que o autor expressou, a leitura do livro me acrescentou muito, e aconselho a quem puder fazê-lo dar uma lida para absorver suas lições. A retórica dele é convincente, e os pontos que ele levanta são dignos de consideração.

Nicolas Oliver

terça-feira, 10 de outubro de 2023

1xy. Da filosofia por negação


Eu peguei alguns livros num evento no Goethe Institut: ‘’A Questão Judaica’’ de Marx, e ‘’A Filosofia Universitária’’ de Schopenhauer. Não tive paciência para ler nenhum dos dois até o fim. Marx e Schopenhauer são dois indivíduos que morreram sozinhos por serem extremamente chatos e pedantes, e lendo essas obras deles deu pra ver o porquê. 

Na ‘’Questão Judaica’’, além de atacar o próprio povo e a sociedade cristã que lhes negava direitos, Marx mais uma vez desautoriza todos os outros filósofos com exceção de si mesmo e seu patrocinador, e na ‘’Filosofia Universitária’’, Schopenhauer ataca impiedosamente os outros filósofos de sua época, chamando-os de pequeno-burgueses hipócritas, sem visão e incompetentes. 

Em muito pouco dos livros eles fazem o que deveria interessar, propor as visões de mundo em que acreditam. Marx é herdeiro da tradição europeia e americana das disputas intelectuais, onde se fazem rinhas de galo para ver qual pensador terá direito de mandar no terreiro. Schopenhauer era movido por uma personalidade arrogante que o fazia não conseguir se encaixar em lugar nenhum por mais que tentasse. 

Eles serem expulsos ou não serem bem recebidos nos lugares era mais culpa deles mesmos do que do ambiente- mas eles escreviam fazendo crer que era o contrário. No final das contas, os pensadores que eles atacaram acabaram sendo tão importantes para o desenvolvimento humano quanto eles mesmos, eles apenas não conseguiam compartilhar o espaço. 

Quando você é um pequeno-burguês que diz obviedades e placitudes bem-comportadas é muito obvio que você não será grande coisa na posteridade, mas não existe necessidade de sair nos lugares maltratando as pessoas para ganhar um atestado de gênio.

Lobão, Olavo, e os meninos do MBL faziam isso e nunca foram candidatos sérios para a MENSA. Quando for buscar o conhecimento, se isso envolver ter que lutar por um ponto de vista, faça isso buscando uma vitória rápida e simples e não algo teatral como se estivesse no WWE ou no Mortal Kombat. Quanto mais espetaculares você fizer suas pretensas vitórias, mais audiência vai ter no dia de sua derrota. 

De qualquer maneira, a filosofia que evolui através da controvérsia, tem o limite de só evoluir enquanto houver controvérsias. Se você aponta suas contradições internas, ou que ela serve a um modelo de pensamento que gosta de analisar os outros e criar vários obstáculos e exceções a ser também analisado, ela entra em parafuso e não se sustenta. 

A grande verdade é: nenhuma filosofia nem visão de mundo se sustenta. Qualquer uma delas pode ser negada por si mesma se você forçar seu proponente a provar seus fundamentos sem usar as ferramentas que seus mestres doutrinaram. Cada doutrina faz apologia de si mesma tentando impedir uma análise honesta de suas motivações e do que traz medo a seus líderes. 

Mas se a gente vivesse num mundo que nada valesse nada e tudo valesse nada, ninguém faria trabalho algum. Viver envolve ter que aceitar que um conhecimento imperfeito, ter que confiar nas coisas sem saber como elas funcionam, é melhor do que tentar conhecer tudo antes de fazer alguma coisa. 

Essa mesma visão se aplica as variadas filosofias: elas são ferramentas imperfeitas, mas nos ajudam a entender o mundo sendo também imperfeitos. Se você buscar negar tudo antes de sequer aprender os fundamentos de uma coisa, será um bom polemista, mas um péssimo filósofo. Estará dominado por suas emoções e vontade de ser o galo no poleiro, mas não estará avançando muita coisa além de seu próprio ego.

Quando você busca a verdadeira evolução, o que você diz passa a ter um peso diferente- você passa a dizer em menos palavras algo que antes levaria parágrafos inteiros, deixa de disputar pelo que não é de seu interesse – passa a ter mais tempo porque valoriza o tempo que tem.

Alcançando isso, você estará em condições de fazer contribuições originais ao conhecimento humano, não mais movido pela arrogância, pelo ressentimento, e pela pior dos sentimentos, a falsa caridade. Cada fruto seu será leve e bom, como uma videira bem cuidada. Então poderá recolher os louros da realização. 

E em tempo: esse próprio texto, como bem podem observar, não deixa de levantar uma polêmica contra Marx e Schopenhauer...

Nicolas Oliver

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Definindo sua carreira: escolhendo o que ler

Algumas obras são basilares para gerar um bom entendimento do mundo profissional. Definirei aqui algumas das que me formaram, falando de seus autores:


-Machado de Assis: desse autor, duas obras de muito interesse para sua carreira são ‘’Teoria do Medalhão’’ e ‘’Quase Ministro’’ que falam sobre os percalços da fama e do poder.

-Dale Carnegie: Eu tinha preconceito com ‘’Como fazer amigos e influenciar pessoas’’ por achar que era um livro para alpinistas sociais, mas quando pude ler vi que é exatamente o contrário: uma obra para você aprender a conviver bem com quem está ao redor sendo o minimamente desagradável possível, ainda que sem se podar.

-Lawrence Peter: sua grande obra, ‘’A Teoria de Peter’’, define a chamada Lei de Peter: em qualquer organização, todo funcionário é promovido até chegar a um nível onde ele não consegue mais cumprir funções direito. Parece simplista, mas o livro explica questões muito mais complexas, como o fato de as organizações funcionarem mais para cumprir burocracias do que para atingir objetivos. Nesse cenário, quem tenta trabalhar de forma sincera para fazer o melhor acaba sendo punido. Depois de ler este livro, deixamos de nos frustrar porque tudo parece ser feito para não funcionar.

-Elyahu Goldratt: esse autor fala sobre a Teoria das Restrições. Ele basicamente diz que a velocidade de um processo é definida pelo seu componente mais lento ou que força os outros a uma certa velocidade máxima, definida por ele como um ‘’gargalo.’’ Administrar seria basicamente procurar um gargalo após o outro até o sistema ter sua eficiência máxima possível.

-Taichi Oono: o criador do sistema Toyota de Produção. Há um livro dele com esse tema, que explica como ele criou tal sistema após visitar supermercados americanos e ver como ficavam sempre bem estocados. Ler esse livro ensina como modificar ideias de um lugar e saber aplicar em outro contexto pode gerar mudanças revolucionárias.

-Yamamoto Tsunetomo: Seu livro, o Hagakure Samurai, é o mais próximo de uma versão escrita do Bushido, o código dos samurais. Ele tem conselhos de como se portar e de como manter a mente tranquila. Sua leitura é muito enriquecedora.

-Musashi Miyamoto: O livro dos Cinco Anéis, junto com A Arte da Guerra de Sun Tzu, é vital para quem deseja aprender os preceitos da estratégia. Possui também uma grande riqueza espiritual.

 

domingo, 9 de abril de 2023

Notas Filosóficas - Pequena e grande




         Lembro de ter lido que o samurai deve treinar para sacar sua espada da maneira mais decisiva possível, pois a partir do momento que ele a tira da bainha, perde sua iniciativa e o adversário passará a buscar pontos fracos no seu estilo de luta.

       Isso evoluiu nos dias de hoje, de maneira que aquele que de fato atinge o primeiro tiro num combate, seja entre homens, veículos, navios ou aeronaves, pode-se considerar o vencedor da luta, porque as armas de hoje são tão letais que basta qualquer munição atingir que o outro lado é derrubado. Isso se ignorando é claro, que o combate hoje raramente é individual e haverá vários outros combatentes disparando em cada lado da disputa que houver.

       Porém, fica a pergunta: adianta muita coisa o guerreiro treinar ardorosamente sua espada para com ela conseguir dano máximo num possível combate, e saber brandi-la sem revelar sua alma ao inimigo, se ele ignora o fato de que na verdade, todo homem sempre carrega consigo o par de espadas que Musashi propos como padrão? Pelo que entendo, o grande sabre serve para controlar o campo de batalha, impedindo o guerreiro de ser atingido, e podendo ser brandido com duas mãos caso ele queira atingir algo com força máxima.

        Em nossa vida pessoal, nossa profissão, nossa religião, nossa ideologia e nossa família são o grande sabre, a katana que rege nossa existência. O pequeno sabre, a espada companheira, ou wakizashi, serve para suporte, e tentar atingir o inimigo com golpes rápidos.

       Caso o guerreiro fique preso numa casa de teto baixo ou num bambuzal, ele usará a wakizashi como katana, ou até mesmo usará uma tantô ou ponta de naginata se não tiver outro meio. Isso são nossos hobbies, amizades sem grande comprometimento, pequenos vícios que não chegam a ser graves, paqueras que podem gerar alguma faísca mas não vão longe. 

       Posso ter me equivocado quanto ao uso em luta das espadas por nunca ter feito uso delas, mas o que quero dizer é que nenhum homem nunca está sem suas espadas aonde ele vai, ainda que o mandem para lá completamente pelado, ou mesmo que arranquem pedaços dele. Isso talvez torne o iaido inútil: homens não tem bainha para esconder a cor de sua lâmina. 

          Uma espada ou outra arma podem cortar e explodir de tais e tais maneiras. Mas se você dá a um homem que tem um certo tipo de alma, tais e tais armas, ou o treina em tais e tais estilos, a alma dele se sobreporá a tudo isso, seja ela boa, corrupta ou medíocre.     

            Muitas vezes um homem de grande capacidade técnica pode absorver vários estilos, armas e técnicas mas até mesmo os leigos percebem que a alma dele esmaga tudo que está fazendo, e as pessoas não conseguem sentir prazer no que ele faz por muito tempo. Para um homem assim, o iaidô ou qualquer outra técnica que ele usar para mascarar a si mesmo só serve para esconder a decepção que ele causará depois. Algumas pessoas assim se percebem, ou são instruídas por outros, e melhoram, outras mantêm a arrogância e se elevam até serem derrubadas ou caírem em desonra.

             Uma coisa interessante de se observar, é o medíocre que tenta ser alguma coisa: ele tropeça, cai, evolui um pouco em algumas coisas, regride enormemente em outras, mas tanto os que estão acima como aqueles que estão abaixo dele sentem prazer em observá-lo treinar, porque o grande se lembra do que era no passado, e o pequeno observa o que pode tentar ser, o que fazer e o que evitar, no débil que tenta ser alguma coisa.

             A alma dele se torna uma coisa só com o que ele está aprendendo, mas ele não se anula nessa tentativa. Quem o vê exibir sua técnica, percebe que não é perfeita, mas vê que é sincera, e sabe que ele irá melhorar com o tempo. Esse e o iaido perfeito: o da flor que desobrocha lentamente seguindo a estação, no tempo que deve ser.

Redação CBMBA- Tecnologia

A tecnologia pode dar suporte a Segurança Pública numa questão bastante óbvia: diminuir a quantidade de pessoal administrativo e permitir co...