domingo, 19 de julho de 2020

Os limites do humor



Eu acompanhava os vídeos do influenciador Mário Júnior através de minha noiva, que me mostrava no seu celular gravações originais e paródias editadas, das produções do jovem rapaz. Ver esses vídeos eram uma parte divertida dos meus dias de quarentena, num época aonde existem tantas pessoas sofrendo. Para minha triste surpresa, ela me passou um vídeo mostrando o jovem em questão quase chorando, após ser humilhado numa entrevista com a equipe do Pânico na TV. Senti uma grande pena do rapaz, e revolta diante da tremenda insensibilidade dos entrevistadores. Eles puniram Mário pelo crime de ser melhor humorista do que eles jamais seriam, pois produzem um humor decadente e apelativo que não chega aos pés do que ele produz.

Senti vergonha de mim mesmo, por, quando mais jovem, acompanhar o Pânico, e sentir graça de piadas que hoje percebo não terem graça nenhuma. Piadas humilhando mulheres, minorias, pessoas em situação de rua e várias outras categorias de pessoas que já sofrem o suficiente sem ninguém ficar tripudiando delas.

Há não muito tempo atrás, lembro que o auto-denominado‘’humorista’’ Danillo Gentili fez piada com uma mulher que doava leite materno para mães que, por variadas razões , não conseguiam fornecer leite para os próprios filhos. A mulher processou o ‘’humorista’’ e logrou vitória, porém teria ficado tão traumatizada com a situação, que não conseguiu fornecer leite, privando várias crianças desse alimento tão vital, que ela fornecia sem esperar nenhum ganho por isso além da satisfação de fazer o bem.

Da mesma forma os ‘’humoristas’’ do Pânico, quiseram tirar vantagem do jovem Mário Júnior, que através de sua arte, produzia felicidade para pessoas que, além de todas as dificuldades que passavam normalmente em suas vidas, sofrem com os efeitos da crise mundial do COVID-19. Diante disso, fica a pergunta: a quem serve um ‘’humor’’ que ao invés de deixar as pessoas felizes e motivadas, apela para os instintos mais baixos do ser humano, como a inveja, o senso de superioridade e o despeito? Como bombeiro militar, cuja função, junto com meus colegas de farda, é salvar vidas, me solidarizo com o jovem Mário Júnior, pois ele pode ter ajudado a evitar que várias pessoas fizessem mal a si mesmas, por se sentirem felizes e acolhidas pelas mensagens de amor e esperança que ele passa.

Não é verdade que o seu trabalho, jovem Mário, é algo passageiro e que será logo esquecido quando surgirem outras novidades. Você poderá não ter a mesma visibilidade de agora, mas tem potencial para evoluir muito mais nas artes cênicas, estudando e aprimorando o talento nato que você possui. Mantenha a força, e grande abraço.

terça-feira, 30 de junho de 2020

Pedagogia do Interregno



Texto realizado na UNILAB, no ano de 2017, como resposta a uma atividade sobre Boaventura de Sousa Santos.

''Ao invés de fazer perguntas separadas, achei mais apropriado deixar meus questionamentos num único texto. Acredito numa alternativa algo diferente da proposta por Boaventura de Sousa. Eu acredito que os problemas que hoje afetam países como o nosso poderiam ser resolvidos através de uma narrativa heroica, que unificasse o povo em torno de um projeto nacional.

Acredito que a alternativa proposta por Boaventura não tem viabilidade devido a dois grandes fatores. Primeiro, depende de uma solidariedade internacional difícil de sustentar diante das divergências de interesses locais, e segunda, deriva de uma esquerda que está tão esgotada quanto as outras ideologias de origem ocidental.

A pedagogia libertadora que ele propõe, não é de interesse sequer aos governos e regimes de cunho progressista, porque o que eles chamam de educação libertadora é na prática formação de militantes partidários ou de causas sociais restritas, e é na prática tão conformista quanto a educação hegemônica a que se propõe como antítese.

A época atual aparenta ser nebulosa porque se trata de uma época de interregno, aonde a liderança euro-americana está ao pouco sendo substituída por uma liderança sino-indiana; e como a existência da ameaça nuclear e a interdependência financeira impossibilitam a troca de liderança através de uma guerra aberta, ela ocorre através de um lento apodrecimento da hegemonia euro-americana, enquanto o novo núcleo, também em situação questionável, amadurece para assumir seu lugar, podendo definir uma nova ordem mundial no processo.

Uma pedagogia mais adequada a essa realidade, aonde cada país ou bloco regional teria de aprender a sobreviver por si mesmo num mundo crescentemente desregulado e sem leis claras, poderia ser chamado de pedagogia do interregno. Seria uma pedagogia centrada em valores como orgulho nacional, civismo, e dever, valores deixados de lado tanto pela elite liberal como pela esquerda nos anos 90, e que poderiam fazer emergir da juventude uma vanguarda que liderasse o país pelo exemplo, permitindo a superação da crise econômica e do esgotamento moral que ocorrem atualmente.''

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Redação ENEM 2019- Democratização do Acesso ao cinema


        ''Atualmente, ir ao cinema é considerado um hábito refinado. Cobra-se não só um valor relativamente alto no ingresso em si, como também um alto valor na pipoca, refrigerantes e outros alimentos no entorno dos cinemas, sem falar no custo crescente do transporte ou do estacionamento.
         Comparativamente, é mais acessível pagar por um serviço de TV por assinatura ou streaming, e assistir a um filme na comodidade de sua residência, numa TV Digital, computador ou projetor, do que ir a um cinema que ofereça tela grande e som estéreo, mas com custo-benefício pouco atraente.
          É possível que tal situação ocorra por uma falha no sistema cultural brasileiro: damos subsídios relativamente altos aos produtores de obras de todo tipo, mas não investimos nem incentivamos o marketing e a distribuição.
           Devido a essa falha, produzimos obras-primas que não alcançam a grande massa, e ficam restritas a uma parcela intelectualizada da população.
          Outro ponto, é que devido aos altos custos para se manter uma sala funcional, os exibidores apenas rodam filmes que tenham certeza garantida de gerar retorno, para poderem se manter no mercado.
          Assim, para garantir que haja mais salas funcionando, e com mais filmes nacionais e de boa qualidade, talvez seja necessário adotar uma política de fomento aos distribuidores, da mesma maneira que há uma para os produtores, para garantir que seja comercialmente viável abrir cinemas mais remotos do país, como um dia fora no passado.''

segunda-feira, 30 de março de 2020

Resenha- Dois Papas



Assisti ontem esse maravilhoso filme. Ele não é feito para quem gosta de ação ou disputas de poder- mas para quem tem paciência e um espírito filosófico. Misturando realidade com um pouco de ficção, o filme é baseado na interação entre duas figuras com idéias bastante díspares do que significa liderar, cada um deles com suas convicções e contradições.
Antes de ver esse filme, eu não nutria grande simpatia pelo Papa Bento XVI, mas vendo a brilhante interpretação feita por Anthony Hopkins, pude o compreender melhor como ser humano- alguém com suas falhas e imperfeições, mas disposto a abrir espaço para alguém que pensa diferente dele porque sabe que essa pessoa trará mudanças que sua organização precisa.
Quanto ao Papa Francisco, interpretado de forma não menos brilhante por Jonathan Pryce, ver a versão mostrada no filme aumentou ainda mais meu respeito por ele- porque percebi nele uma pessoa que teve que tomar decisões dificeis para proteger aqueles que amava, e sentindo culpa pelos erros que cometeu, passou a buscar redenção por esses erros.
Fortemente recomendado para estes tempo de quarentena, mesmo para quem não é católico ou religioso.

sábado, 28 de março de 2020

Diário de Campanha

28/03/2020

Há duas semanas, eu nem sequer esperava que o mundo pudesse virar de pernas para o ar como está agora. Tinha achado que era apenas mais uma dessas novas doenças que surgem de 5 em 5 anos, geram um monte de repercussão na mídia, mas não atingem nenhum amigo ou parente próximo.

Quando a pestilência chegou aqui, eu demorei para aceitar a realidade. Menos de uma semana antes do vírus chegar ao Brasil, minha noiva veio me ver, prevendo que logo após, fechariam todas as estradas. O amor e o carinho que ela me deu me deram ânimo para aguentar estar sozinho durante esses tempos.

Tentei me manter tranquilo. Voltei a preparar comida em casa, para não ir a restaurantes e gastar menos dinheiro, e consegui fazer bons pratos em casa. Comer um feijão feito por mim mesmo é uma sensação que eu tinha esquecido e achei muito boa.

Passei a manter contato constante, na Internet, com parentes e amigos, para saber se eles estão bem, e para que elas saibam que estou bem. Porém, pude perceber também que as pessoas estão tão tensas, que estão brigando entre si nas redes sociais como forma de canalizar essa tensão.

Uma das primeiras baixas dessa pandemia foi a civilidade que as pessoas mantinham em relação aquelas com as quais tem pensamentos antagônicos. Eu próprio perdi um bom tempo nas redes sociais, que poderia ser melhor utilizado para realizar meus projetos pessoais, que não dependem de nenhum recurso especial além de foco e concentração da minha parte.

Na próxima semana, tentarei mudar essa situação. As pessoas estão desperdiçando tempo e energia com questões que não tem autoridade para resolver, e, portanto, estão fora da alçada delas. Vou tentar manter a serenidade, para futuramente, não cometer esse erro.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Redação UNEB 2020

Redação que conseguiu uma vaga no vestibular 2020 da UNEB, no Campus Santo Antônio de Jesus.


Responsabilidade Ecológica versus Responsabilidade Social

           A violência, a exclusão social e a degradação ambiental são marcas do capitalismo, que continuarão enquanto esse for o sistema econômico vigente no mundo. Na sociedade da busca do lucro, não existe espaço para a preocupação com o bem-estar nem a viabilidade da raça humana na Terra.
           Cientistas alegam que estamos numa nova era geológica denominada Antropoceno- a era dos seres humanos, aonde as alterações produzidas na natureza pelas nossas atividades econômicas são maiores do que qualquer fator natural previamente existente.
             Dentro desse contexto, apenas agora percebemos que a manutenção de um ambiente saudável para as outras espécies de seres vivos é algo necessário para nossa própria sobrevivência, e que existe um risco real de destruirmos nossa própria espécie se não cuidarmos da natureza.
              Devido a isso, é possível que o principal meio de fazer as pessoas e organizações despertarem para a questão ambiental seja o puro e simples apelo ao egoísmo e ao instinto de autoconservação- deixar bem claro que se a natureza morrer, nós e nossos entes queridos também morreremos.
            Além disso, é necessário educar as crianças desde cedo para que tenham uma noção de responsabilidade, tanto humana quanto ambiental, que as gerações anteriores não tiveram no passado. Dessa maneira, é possível que se consiga reverter a dilapidação dos recursos naturais, e manter a viabilidade da civilização para as gerações vindouras.
            Pode-se dizer, a partir desses fatos, que responsabilidade social e ambiental se tornaram uma só coisa- ajudar a raça humana a viver melhor é cuidar do meio ambiente, e cuidar do meio ambiente é cuidar das pessoas, num futuro em que além do lucro, a felicidade das pessoas também seja importante.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Resenha: The Good Place


''The Good Place'', disponível na Netflix, chegou ao seu episódio final. Comecei a acompanhar essa série há dois anos atrás, e não sabia que chegaria a um final tão leve e equilibrado.

Abordando uma possível vida após a morte de forma filosófica e bem-humorada, a série deixou boas lições de forma divertida e não pretensiosa. Fazendo pequeno uso de efeitos especiais, a série se destacou pelo seu roteiro sólido, e por uma boa atuação por parte dos seus intérpretes.

A temática principal da série é sobre pelo que vale a pena ser bom, mesmo não havendo garantias de recompensas posteriores por causa disso. Diante desse fato, qual seria o sentido da vida? A série não chega a responder essa pergunta, mas deixa no ar o questionamento para nós próprios descobrirmos.

Redação CBMBA- Tecnologia

A tecnologia pode dar suporte a Segurança Pública numa questão bastante óbvia: diminuir a quantidade de pessoal administrativo e permitir co...