sexta-feira, 23 de abril de 2021

Resenha: HAMILTON, de Lin Manuel Miranda



Eu adquiri uma janela da Disney+ com um colega, e não me arrependi. Comecei a botar em dia os filmes da Pixar e da Marvel que eu perdi desde que a Disney saiu da Netflix e dos outros streamings, comecei a acompanhar The Mandalorian, e parei para ver, apenas por curiosidade, a peça ''Hamilton'', de Lin Manuel-Miranda.

Eu conheci parte da história de Alexander Hamilton, a personalidade retratada na obra, num livro americano bem velhinho que achei numa escola que trabalhava. Achei maravilhosa a semelhança da sua biografia com aqueleas do Barão de Mauá e Ferdinand de Lassale, duas figuras históricas que admiro muito.

Lin-Miranda consegue tornar interessante uma história que seria chata para os padrões atuais, imprimindo uma pegada pop as passagens da vida do político e empreendedor Hamilton- retratando sua vida desde que chegou as 13 Colônias, até seu envolvimento com a Revolução Americana, e sua brilhante, ainda que um tanto turbulenta, participação na formação do novo país que surgiu após a expulsão dos britânicos.

Assim, pode-se dizer que ‘’Hamilton’’ está entre os melhores conteúdos, de um streaming que já tem um acervo muito bom. Quem dispor seu tempo para assistir, não irá se arrepender.

domingo, 11 de abril de 2021

Reflexão sobre a Educação

Texto de um trabalho realizado na UNEB, no qual se pedia que se fizesse uma reflexão sobre Educação.


''Em todas as instituições de ensino que estudei e trabalhei, via uma contradição expressa entre a retórica progressista e a prática efetiva que elas realizavam. Nas escolas particulares, mesmo eles praticando uma pedagogia formalmente libertária, eu via os professores e funcionários tendo que trabalhar anos seguidos sem sequer terem reposição de inflação, e sem poderem fazer greves devido a isso porque sabiam que seriam demitidos na primeira oportunidade.

Na escola pública, por outro lado, eu via os piores professores e alunos, em todos os sentidos, serem justamente os que mais puxavam greves, ambicionando cargos na estrutura escolar e do movimento estudantil.

Eu via escolas que falavam em ‘’educação inclusiva’’, em formar o ‘’sujeito histórico-crítico’’, deixarem os alunos a mercê de professores e coordenadores que praticavam todos os tipos de abusos porque eles eram apoiadores da direção ou da reitoria.

Além disso, eles falavam sobre ‘’promover a saúde mental’’, e não faziam nada em relação aos alunos, professores e funcionários que entravam em colapso nervoso todos os dias devido a carga estressante de estudos e trabalho, sem contar o clima de perseguição aonde aqueles que fossem pegos no menor deslize sofriam processos e sindicâncias.

Ao mesmo tempo em que eles criticavam a ‘’educação bancária’’, faziam questão de exibir a quantidade de alunos que conseguiam mandar para os cursos mais cobiçados de faculdades importantes, não importando para isso que a vida social e afetiva dos alunos fossem totalmente destruídas no processo.

Isso me deixou com a impressão de que boa parte do que se fala na Educação é apenas retórica. Sim, acabaram as palmatórias, o rezar no milho, as cartas recomendando aos pais darem uma surra nos filhos por terem se comportado mal na escola.

Existem cada vez menos pais e professores que dizem que para o aluno que ‘’se ele não estudar, só vai servir para ser vigilante noturno, auxiliar de serviços gerais, frentista de posto ou para ser vagabundo. ’’ Esse é um ameaça psicológica que está tão manjada, que os filhos e alunos tendem a cair cada vez menos nela. O filho ou aluno podem simplesmente responder de volta: ‘’E o senhor, que estudou tanto, só conseguiu ser um assalariadozinho de terceiro escalão e vai morrer tendo uma aposentadoria medíocre. ’’

Hoje em dia, porém, é o próprio sistema que se encarrega de dizer isso as pessoas, através de um código moral que divide a sociedade agudamente entre os vencedores, que conseguiram responder com sucesso aos desafios da vida, e os fracassados, que por não conseguirem aguentar o peso das crescentes responsabilidades que surgem no mundo moderno, acabam sendo relegados ao desemprego ou as funções que os vencedores não desejam.

Apesar de toda a retórica igualitária e progressista, a escola é um dos espaços aonde essa lógica dos vencedores e fracassados se apresenta de forma mais contundente. Há os vencedores, que tiram boas notas, são populares tanto com os professores como com a maioria dos colegas e tem várias namoradas, e há os fracassados, que tiram notas ruins, os professores e colegas apenas toleram, e tem chances consideráveis de chegarem à idade adulta ainda virgens e sem ninguém.

Apesar de existir uma falsa ideia, difundida pela mídia, de que ‘’um dia os nerds é que vão ser os patrões enquanto os populares vão ser os empregados’’, quem já é excluído na escola dificilmente vai chegar longe na vida. Vão ter uma carreira profissional confusa e errática, uma vida amorosa e familiar marcada pela baixa auto-estima e pelos traumas da juventude, uma vida social pior ainda.

E nem mesmo aqueles que foram ‘’vencedores’’ na escola estão a salvo de sofrerem o mesmo destino, porque quando entrarem no mundo adulto, aonde sua popularidade da adolescência não tem valor, eles podem entrar num processo de angústia existencial para o qual não foram preparados, porque não foram forçados a amadurecer já na juventude.

A educação falsamente progressista, que alega ser libertária, mas não combate na raiz a dicotomia entre vencedores e fracassados imposta pela sociedade burguesa, é uma educação que serve apenas como reprodutora de mão de obra para o sistema, sob a falsa premissa de que estaria libertando o trabalhador ou o cidadão ao oferecer a  ele uma ‘’formação crítica’’, e ainda assim fortemente enviesada e partidária.

Essa educação só tolera críticas a classes externas a ela, como a alta burguesia, a classe média conservadora e aos empresários, pois quando se fazem criticas a sua relação promíscua com a política, sua visão pequeno-burguesa do mundo, ou os seus próprios pequenos privilégios, ela busca desqualificar cruelmente quem põe tais pontos em questão.

Caso aquele professor que surgiu no filme ‘’A Sociedade dos Poetas Mortos’’ fosse transportado para os tempos de hoje, ficaria surpreso como, apesar da educação ser muito menos repressiva do que a da época retratada no filme, ela permite existir um clima de crueldade mental aonde os alunos se matam de estudar sem terem garantias de que encontrarão bons empregos quando se formarem, e os professores, assoberbados de trabalho, literalmente se matam por não conseguirem encontrar uma razão para o que estão fazendo, porque não conseguem mais enganar os alunos com a promessa de um futuro radiante que não enxergam nem para si nem para os próprios filhos.

Por isso, eu acredito que para resinificarmos a Educação em relação ao clima de estagnação na qual ela se encontra, e criarmos um ambiente escolar aonde os alunos possam realmente se expressar como seres humanos completos e complexos, precisamos primeiro rever nossa própria visão de sociedade, e pararmos de sermos progressistas na retórica, e repressivos nas práticas efetivas que realizamos.''

O Negro no Brasil- Resenha

 


O excelente livro de Leandro de Assis aborda uma questão espinhosa para muitos: qual deveria ser o principal critério para definir quem teria direito ou não as cotas raciais, ou seja, se o critério deveria ser o fenótipo (cor da pele e outros marcadores físicos) ou o genótipo ( a autodeclaração feito pelos próprios interessados, por possuírem um ou mais ascendentes pertencentes as etnias desfavorecidas). Usando argumentos muito elegantes e inteligentes, embasados numa lógica e jurisprudência impecáveis, Leandro se posiciona como partidário da segunda opção.

O livro se inicia com um resumo histórico da situação do negro no Brasil, versando especialmente sobre a marginalização dos afrodescendentes após o fim da escravidão, levada a cabo através de politicas de branqueamento e de criminalização dos excluídos, o que acabou jogando os recém-libertos numa posição de miséria e subalternidade. 

Chegando aos tempos contemporâneos, quando as políticas de reparação começaram, Leandro busca argumentar que usar como critério de inclusão nessas políticas o fenótipo poderia gerar, por parte do Estado, uma nova violência contra aqueles que carregam todas as consequências dos anos de escravidão e discriminação, independentemente de sua aparência física mais evidente.

Embora o próprio autor não expresse isso, pode-se considerar que políticas de reparação baseadas no fenótipo poderiam promover o que poderia se chamar de ‘’apartheid politicamente correto’’, que fatalmente degeneraria numa espécie de supremacismo estético amparado pelo Estado.

A forma de se evitar isso seria a adoção do modelo do genótipo embasado na autodeclaração, que apesar de possivelmente permitir que pessoas com quase nenhuma ascendência negra a assumirem vaga destinadas a negros e pardos, evitaria o abuso de poder por comitês raciais que agiriam com um viés ideológico excludente.

Leandro conclui seu belo tratado conclamando que as leis que garantem o ensino da história da África, tanto nas aulas de História Geral como numa matéria criada especificamente para esse fim, sejam postas em prática, para que o orgulho pelo papel deste continente em nossa formação nacional venha a ser verdadeiramente valorizado por nossas novas gerações.

Caso tenha interesse no livro: https://www.amazon.com.br/Negro-Brasil-Hist%C3%B3rico-Desvantagens-Repara%C3%A7%C3%A3o-ebook/dp/B08WLFSQDG

quinta-feira, 25 de março de 2021

O professor de História ainda é necessário?

Por Nicolas Oliver

Texto para o curso de História, da UNEB.  


       Li um artigo que me deixou muito perturbado: o artigo dizia que o QI das novas gerações tinha decaído em relação ao da geração anterior, e que a possível culpa desse fato estava no excesso de exposição a mídias eletrônicas desde a mais tenra idade. O cientista que foi entrevistado no artigo dizia que intoxicação digital estava funcionando como ‘’uma fábrica de cretinos digitais’’, incapazes de realizar pensamento crítico, raciocínio lógico, e com a inteligência motora e social afetada.
       Outro artigo que li dizia que as novas gerações, além disso, tenderiam a serem mais pobre do que seus pais e avós, não só porque crescerão num ambiente sem estabilidade profissional e com menos garantias sociais que dificultarão a aquisição da casa própria, como também gastariam muito mais com tratamentos de doenças como depressão e outras questões psicológicas, causadas pelo estresse mental e pela falta de referências sólidas do mundo contemporâneo.
        Assim, as novas gerações estariam condenadas a viver num mundo falido, em eterno descontentamento e incapazes de compreender como foram parar nessa situação. O pouco que conseguirem aprender de Português, Matemática e Ciências apenas lhes serviria para conseguirem uma vida materialmente menos pior, mas não resolveria o crescente vazio existencial que as assola.
         Quando fiz as provas para exercer meu emprego atual, escolhi como tema de Redação fazer uma análise de figuras como Bel Pesce (‘’A menina do Vale’’) e Eike Batista (‘’O Eike Xiaoping’’), que tiveram ascensões meteóricas, como todo mundo querendo ser igual a eles e copiar seus aparentes exemplos de sucesso, e depois caíram da noite para o dia, virando motivos de chacota e opróbrio.
Não tenho mais a cópia da redação em questão, mas lembro de na mesma, ter deplorado o fato de que a sociedade tem tendência a escolher como modelos de conduta indivíduos terrivelmente falhos, cuja decepção que geram acaba criando apatia nas pessoas, que por causa disso deixam de seguir qualquer um que traga ideias diferentes de como fazer as coisas.
         Acho que ensinar as pessoas a diferenciar os verdadeiros inovadores dos falsos profetas seja a principal função não só do professor de História, mas das Ciências Humanas em geral. O historiador deve preparar as massas para respeitarem e seguirem líderes como Angela Merkel e Barack Obama, e rejeitarem aventureiros como Berlusconi e Trump, mostrando os pontos fortes e fracos dos grandes líderes do passado e como eles chegaram a glória ou ao fracasso nos caminhos que escolheram.
         Na minha trajetória política, por exemplo, cometi mais erros que acertos. Acreditei que as Jornadas de Junho fariam ‘’o gigante acordar’’, e ele continuou dormindo, acreditei em figuras como Cristovam Buarque, Marina Silva e Tábata do Amaral e os vi, um após o outro, contradizerem através de ações o que falavam através de palavras, e tantas outras decepções.
         Através do ensino da História, pretendo que os jovens do futuro estejam habilitados a intervir no cenário político de forma muito mais produtiva do que eu, mantendo seu idealismo e esperança sem deixarem de analisar friamente a realidade e suas vicissitudes.
        Observo com certa desconfiança, por exemplo, um influencer como Felipe Neto ser alçado ao posto de porta-voz da resistência ao bolsonarismo, por ter sofrido perseguição legal devido as suas posições. O mesmo Felipe Neto, anteriormente, havia usado de sua influência para dizer que o ensino de Machado de Assis nas escolas não era necessário, devido ao fato dele e outros autores nacionais serem ‘’chatos’’ para a juventude.
        Esta foi uma fala muito perigosa, porque as crianças e jovens dos países desenvolvidos não deixam de estudar Shakespeare, Poe ou Orwell porque são ‘’chatos’’ para eles. Quando se tornam adultos, elas passam a produzir os filmes, livros e videogames que as nossas crianças passam horas assistindo, lendo e jogando, o que só serve para perpetuar nossa dependência e subordinação, tanto cultural quanto econômica, em relação a esses países.
         Por essas e outras razões, caso o campo progressista um dia volte ao poder, Filipe Neto tem grande potencial para se tornar uma nova Tábata, alguém que vai contrariar todas as expectativas daqueles que confiaram nele, caso ele chegue ao poder após se candidatar a um cargo político.
          Numa sociedade aonde os historiadores e demais cientistas sociais cumprem suas funções a contento, as pessoas aprendem a não esperar mais por príncipes encantados montados em cavalos brancos, mas dão poder a líderes equilibrados e razoáveis, que criam um círculo virtuoso de boa vontade e prosperidade na sociedade.
          Assim, pode-se concluir que o historiador, em vez de ser um mero entusiasta do passado, tem um importante papel na construção do futuro, ao ser um fiador da qualidade do processo democrático. A ele cabe ajudar a evitar que o mundo, sem referências nem esperança, degenere numa distopia pós-apocalíptica regida apenas pela lei dos mais forte.

domingo, 21 de março de 2021

O Professor de História e a Contemporaneidade



   
Texto feito para a graduação em História na UNEB, como trabalho de sala.

      Enxergo História como um curso muito subestimado. Quando falam de História, as pessoas no mínimo dizem que, assim como o resto das graduações de Humanas ou da docência, ela é uma graduação sem futuro, que além de ter cada vez menos empregos disponíveis, tem um mercado crescentemente saturado, aonde milhares de profissionais são jogados nas ruas a cada ano, para competir com as dezenas de milhares que já existem. As Ciências Sociais ainda enfrentam o estigma de serem cursos alegadamente procurados por pessoas que entram na faculdade para participar do movimento estudantil e da politica em vez de buscarem serem bons estudantes na área que escolheram.
      Segundo os detratores, depois de ficar dez ou mais anos fazendo um curso que deveriam ter feito em quatro ou cinco, os egressos vão geralmente para a Educação Pública, aonde passarão mais tempo planejando greves, conspirando para manipular as eleições de diretores, e doutrinando os alunos a se filiarem a partidos políticos, do que de fato ensinando qualquer coisa que seja proveitosa aos alunos na faculdade e no mercado de trabalho.
     É inegável que tal estereótipo tem certa base na realidade, porque convivi, nas escolas em que estudei e trabalhei ao longo da vida, com pessoas e grupos que se encaixam nele quase ao ponto do caricatural. Os praticantes desses tipos de atos geralmente justificam esse desserviço que prestam a Educação com a frase de efeito ‘’mas tudo o que fazemos é um ato político!’’, como desculpa para poderem praticar política no pior sentido do termo, de forma faccional e enviesada.
     Felizmente eles são uma minoria na Educação, que na grande maioria é formada por pessoas que levam muito a sério suas funções, e cuja ação política é dar aos alunos as melhores aulas e assistência pedagógica que as condições lhes permitem, e até além do que é esperado pelos regulamentos. Diante dessa realidade, fica óbvio que o clichê do ‘’professor doutrinador’’ é apenas um espantalho manipulado habilmente por pessoas que promovendo grupos como o infame ‘’Escola sem Partido’’, são bastante partidárias e faccionalistas elas próprias.
      Todavia, é ilusão esperar que uma graduação possa mudar as perspectivas espirituais e profissionais de uma pessoa. Quem chega a faculdade sem uma visão de mundo já formada dificilmente vai conseguir manter a que adquiriu nela após confrontar a realidade profissional efetiva, e quem já não tiver uma carreira profissional já em processo de construção dificilmente vai melhorar isso graças à faculdade.
     Quando as pessoas esperam demais de uma graduação ou formação profissional, quase sempre acabam se desiludindo quando a vivência real não corresponde as expectativas. O curso de História, assim como qualquer outro, deve servir como complemento a um planejamento profissional anterior e maior, e não como o centro de todos os planos da pessoa. Se ela não fizer isso, pode se desiludir ao enfrentar um mercado de trabalho competitivo e hostil, aonde todos os esforços que ela fez para se qualificar com distinção não tem valor algum.
      Acho errado, porém, subestimarem História como um curso sem futuro, porque conheci várias pessoas, que ainda que não trabalhem na área de formação, conseguiram boas colocações na política e no serviço público, e ascensão no serviço privado, graças a graduação que fizeram. Sim, existem muitos historiadores desempregados ou empregados de forma precária, mas hoje em dia pode se dizer o mesmo de muitos engenheiros, advogados e até mesmo médicos.
     Quanto a função política do professor de História, sempre acreditei que o civismo e o patriotismo devem vir a frente de qualquer posição partidária ou filosófica que porventura ele tenha. Já chegaram a me dizer que o ‘’civismo’’ é um termo herdado da ditadura, mas eu pessoalmente não me importo com essa alegada conotação negativa.
      Considero um desperdício ver professores que jogam fora o potencial intelectual dos seus alunos ensinando-os a idolatrar Marx, Lenin e Che Guevara, ou então Mises, Hayek e Thatcher, e não apresentam a eles figuras como o Barão de Mauá, o Marechal Rondon, ou Cipriano Barata.
     Para mim a História deveria instilar nos alunos não a luta de classes nem a falsa meritocracia, mas acima de tudo o orgulho de terem nascido e crescido num país que já foi habitado por indivíduos portadores de grande talento, força de vontade e envergadura moral. Se sentindo herdeiros desse legado, eles procurariam emular essa grandeza em suas vidas pessoais, em vez de perderem tempo com visões equivocadas e alienígenas de como o mundo funciona.
      Assim como todos os países, nós temos o que poderia ser chamado de ‘’Legado Cívico’’ herdado de regimes e modos de produção anteriores, e a História, a meu ver, pode ser a ferramenta para transformar a força bruta e inexplorada deste Legado em energia para mudar nossa realidade para melhor, superando as contradições internas de nosso desenvolvimento e criando uma pátria próspera e segura para todos.



sábado, 6 de março de 2021

Pontos errados com a indústria dos games, e possíveis soluções

Um artigo sobre o que acho que está errado na indústria de jogos, e o que poderia melhorar. Essa é a primeira parte.    

Os problemas 

1.Violência e ação pela ação

O fato de existirem mais games envolvendo violência, conflito e destruição, do que compromisso, negociação e construção ajudaram a tornar a sociedade intelectualmente militarizada. Essa mentalidade conflito ajudou a tornar as redes sociais em campos de batalha, tomadas por gangues rivais que lutam por território de forma parecida com as gangues da vida real.

2. Imersividade excessiva

Os games, tanto os online como aqueles offline de mundo aberto, passaram a oferecer cenários crescentemente mais complexos e detalhados, recheados de missões secundárias e minigames paralelos que passaram a tomar cada vez mais tempo dos jogadores. Esse tempo excessivo passado no mundo virtual afasta os jogadores do mundo real, gerando uma relação de dependência psicológica quase semelhante ao uso de álcool e drogas, e em alguns casos até mesmo mais danosa.

3. Falta de confiança nos jogadores

Políticas de proteção de propriedade intelectual e de DRM inflexíveis tratam o jogador como um delinquente em potencial, e não como alguém que quer apenas se divertir com os produtos pagando um preço justo por eles e podendo utilizar seus códigos-fonte para criar coisas novas.

4. Sofrimento psicológico por parte dos profissionais do mundo dos jogos:

Muitas empresas forçam seus funcionários a trabalhar várias horas seguidas depois do expediente formal, gerando sequelas físicas e psicológicas nos mesmos. O jogo é um produto de diversão: também deveria ser divertido para as pessoas que trabalham no seu desenvolvimento e distribuição.

5. Lógica de produção monopolista e concentradora:

A maneira que a indústria funciona perpetua relações de subalternidade entre os países e regiões desenvolvidos aonde as unidades de produção dos games se encontram, e aqueles que os consomem. Os primeiros concentram os meios de desenvolvimento de uma forma que acaba gerando um círculo vicioso aonde os segundos têm muito menos probabilidades de concorrer de forma competitiva, com os produtos dos países e regiões dominantes controlando quase todo o mercado.

6. Incentivo aos grupos de ódio:

O mundo gamer é conhecido por ser reduto de vários grupos problemáticos, como incels, MRAs, supremacistas brancos, e outros grupos de ódio. Não são tomadas medidas efetivas para manter esses grupos sobre controle.

Possíveis soluções:

1. Não recompensar a violência:


Criar jogos aonde evitar a violência seja recompensado, e usar a força sem motivo seja punido ou pelo menos fortemente desencorajado.

2. Evitar a imersividade excessiva:

Criar jogos cujos mini-games e missões secundárias não desviem demais o jogador da missão principal. Limitar a imersividade a fins pedagógicos e de construção de enredo bem definidos.

3. Confiar na integridade das pessoas:


Criar jogos de código aberto, e com grandes possibilidades de customização por jogadores que queiram criar experiências novas. Flexibilizar fortemente a política de DRM, quando não acabar completamente com ela.

4. Mudar as práticas de trabalho:


Adoção de práticas de trabalho justas e humanas por parte da indústria. Evitar glorificar o comportamento workaholic e incentivar os colaboradores a buscar viver e trabalhar da maneira mais saudável possível.

5. Equilibrar o jogo:

Criar jogos que possam rodar em computadores mais antigos e menos potentes, para que as pessoas se acostumem com jogos tecnicamente simples, mas bem-feitos. Isso permitirá as pessoas mais pobres terem acesso a jogos da mesma qualidade que aquelas mais favorecidas, permitindo, dessa forma, que mais países e regiões consigam se tornar produtores de games.

6. Tornar os jogos odiosos para quem odeia os outros:


Parar de criar jogos que incentivem o machismo, o racismo, a homofobia e outras formas de preconceito. Quanto mais jogos humanistas e inclusivos forem produzidos, menos motivos os extremistas vão encontrar para se identificar com eles.''

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Resenha: Um Reino Unido


      Quem me recomendou esta obra foi meu pai, que já tinha me recomendado antes o não menos excelente ''Meu Nome é Dolemite''. O filme conta a história, baseada em fatos reais, do que seria o primeiro presidente da Botswana independente, o então príncipe herdeiro do protetorado britânico da Bechuanalândia, Seretse Khama, vivido pelo ator  brito-americano David Oyelowo. 
        Perto de terminar o curso de Direito em Londres, ele se apaixona pela bancária Ruth Williams(Rosamund Pike) e igualmente apaixonados, ambos decidem se casar, mesmo sabendo que isso encontrará oposição não só da sociedade britânica, como do próprio povo de Seretse, e do governo da África do Sul, que tinha começado a implementar a política do apartheid. Quando, já casados, ambos decidem ir para a terra de Seretse, que até então estava sendo governada por seu tio, ele consegue convencer seu povo a aceitar uma rainha de origem estrangeira e raça diferente, e Ruth logo consegue entrar nas graças de seu novo povo, apesar do tio de Seretse se afastar por desgosto.
      Além disso, o governo britânico, dependente dos minérios fornecidos pela África do Sul, se recusa a empossar Seretse como rei como seria previsto. Ele acaba sendo exilado na Grã-Bretanha, e deixa Ruth para trás, com medo de que o governo britânico os prendesse para sempre na metrópole caso ambos deixassem sua terra para trás. Após isso, se segue uma grande batalha legal e política, para Seretse conseguir reverter o exílio, e voltar não só para sua terra, como para sua esposa, que deu a luz a uma filha enquanto ele estava fora. 
       Não contarei o resto da história para evitar spoilers, mas o filme conta uma história de esperança num momento triste como o que vivemos, que conta a história não só de um líder que conseguiu lutar contra o racismo ainda antes de Malcom X e Nelson Mandela surgirem, mas também tornar seu país uma terra pacífica e democrática, um dos poucos países do Terceiro Mundo que, após se libertar dos seus colonizadores, não foi tomado por guerras e conflitos.

Aonde ver:

O filme se encontra disponível no catalógo da Netflix.

Redação CBMBA- Tecnologia

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