domingo, 21 de março de 2021

O Professor de História e a Contemporaneidade



   
Texto feito para a graduação em História na UNEB, como trabalho de sala.

      Enxergo História como um curso muito subestimado. Quando falam de História, as pessoas no mínimo dizem que, assim como o resto das graduações de Humanas ou da docência, ela é uma graduação sem futuro, que além de ter cada vez menos empregos disponíveis, tem um mercado crescentemente saturado, aonde milhares de profissionais são jogados nas ruas a cada ano, para competir com as dezenas de milhares que já existem. As Ciências Sociais ainda enfrentam o estigma de serem cursos alegadamente procurados por pessoas que entram na faculdade para participar do movimento estudantil e da politica em vez de buscarem serem bons estudantes na área que escolheram.
      Segundo os detratores, depois de ficar dez ou mais anos fazendo um curso que deveriam ter feito em quatro ou cinco, os egressos vão geralmente para a Educação Pública, aonde passarão mais tempo planejando greves, conspirando para manipular as eleições de diretores, e doutrinando os alunos a se filiarem a partidos políticos, do que de fato ensinando qualquer coisa que seja proveitosa aos alunos na faculdade e no mercado de trabalho.
     É inegável que tal estereótipo tem certa base na realidade, porque convivi, nas escolas em que estudei e trabalhei ao longo da vida, com pessoas e grupos que se encaixam nele quase ao ponto do caricatural. Os praticantes desses tipos de atos geralmente justificam esse desserviço que prestam a Educação com a frase de efeito ‘’mas tudo o que fazemos é um ato político!’’, como desculpa para poderem praticar política no pior sentido do termo, de forma faccional e enviesada.
     Felizmente eles são uma minoria na Educação, que na grande maioria é formada por pessoas que levam muito a sério suas funções, e cuja ação política é dar aos alunos as melhores aulas e assistência pedagógica que as condições lhes permitem, e até além do que é esperado pelos regulamentos. Diante dessa realidade, fica óbvio que o clichê do ‘’professor doutrinador’’ é apenas um espantalho manipulado habilmente por pessoas que promovendo grupos como o infame ‘’Escola sem Partido’’, são bastante partidárias e faccionalistas elas próprias.
      Todavia, é ilusão esperar que uma graduação possa mudar as perspectivas espirituais e profissionais de uma pessoa. Quem chega a faculdade sem uma visão de mundo já formada dificilmente vai conseguir manter a que adquiriu nela após confrontar a realidade profissional efetiva, e quem já não tiver uma carreira profissional já em processo de construção dificilmente vai melhorar isso graças à faculdade.
     Quando as pessoas esperam demais de uma graduação ou formação profissional, quase sempre acabam se desiludindo quando a vivência real não corresponde as expectativas. O curso de História, assim como qualquer outro, deve servir como complemento a um planejamento profissional anterior e maior, e não como o centro de todos os planos da pessoa. Se ela não fizer isso, pode se desiludir ao enfrentar um mercado de trabalho competitivo e hostil, aonde todos os esforços que ela fez para se qualificar com distinção não tem valor algum.
      Acho errado, porém, subestimarem História como um curso sem futuro, porque conheci várias pessoas, que ainda que não trabalhem na área de formação, conseguiram boas colocações na política e no serviço público, e ascensão no serviço privado, graças a graduação que fizeram. Sim, existem muitos historiadores desempregados ou empregados de forma precária, mas hoje em dia pode se dizer o mesmo de muitos engenheiros, advogados e até mesmo médicos.
     Quanto a função política do professor de História, sempre acreditei que o civismo e o patriotismo devem vir a frente de qualquer posição partidária ou filosófica que porventura ele tenha. Já chegaram a me dizer que o ‘’civismo’’ é um termo herdado da ditadura, mas eu pessoalmente não me importo com essa alegada conotação negativa.
      Considero um desperdício ver professores que jogam fora o potencial intelectual dos seus alunos ensinando-os a idolatrar Marx, Lenin e Che Guevara, ou então Mises, Hayek e Thatcher, e não apresentam a eles figuras como o Barão de Mauá, o Marechal Rondon, ou Cipriano Barata.
     Para mim a História deveria instilar nos alunos não a luta de classes nem a falsa meritocracia, mas acima de tudo o orgulho de terem nascido e crescido num país que já foi habitado por indivíduos portadores de grande talento, força de vontade e envergadura moral. Se sentindo herdeiros desse legado, eles procurariam emular essa grandeza em suas vidas pessoais, em vez de perderem tempo com visões equivocadas e alienígenas de como o mundo funciona.
      Assim como todos os países, nós temos o que poderia ser chamado de ‘’Legado Cívico’’ herdado de regimes e modos de produção anteriores, e a História, a meu ver, pode ser a ferramenta para transformar a força bruta e inexplorada deste Legado em energia para mudar nossa realidade para melhor, superando as contradições internas de nosso desenvolvimento e criando uma pátria próspera e segura para todos.



sábado, 6 de março de 2021

Pontos errados com a indústria dos games, e possíveis soluções

Um artigo sobre o que acho que está errado na indústria de jogos, e o que poderia melhorar. Essa é a primeira parte.    

Os problemas 

1.Violência e ação pela ação

O fato de existirem mais games envolvendo violência, conflito e destruição, do que compromisso, negociação e construção ajudaram a tornar a sociedade intelectualmente militarizada. Essa mentalidade conflito ajudou a tornar as redes sociais em campos de batalha, tomadas por gangues rivais que lutam por território de forma parecida com as gangues da vida real.

2. Imersividade excessiva

Os games, tanto os online como aqueles offline de mundo aberto, passaram a oferecer cenários crescentemente mais complexos e detalhados, recheados de missões secundárias e minigames paralelos que passaram a tomar cada vez mais tempo dos jogadores. Esse tempo excessivo passado no mundo virtual afasta os jogadores do mundo real, gerando uma relação de dependência psicológica quase semelhante ao uso de álcool e drogas, e em alguns casos até mesmo mais danosa.

3. Falta de confiança nos jogadores

Políticas de proteção de propriedade intelectual e de DRM inflexíveis tratam o jogador como um delinquente em potencial, e não como alguém que quer apenas se divertir com os produtos pagando um preço justo por eles e podendo utilizar seus códigos-fonte para criar coisas novas.

4. Sofrimento psicológico por parte dos profissionais do mundo dos jogos:

Muitas empresas forçam seus funcionários a trabalhar várias horas seguidas depois do expediente formal, gerando sequelas físicas e psicológicas nos mesmos. O jogo é um produto de diversão: também deveria ser divertido para as pessoas que trabalham no seu desenvolvimento e distribuição.

5. Lógica de produção monopolista e concentradora:

A maneira que a indústria funciona perpetua relações de subalternidade entre os países e regiões desenvolvidos aonde as unidades de produção dos games se encontram, e aqueles que os consomem. Os primeiros concentram os meios de desenvolvimento de uma forma que acaba gerando um círculo vicioso aonde os segundos têm muito menos probabilidades de concorrer de forma competitiva, com os produtos dos países e regiões dominantes controlando quase todo o mercado.

6. Incentivo aos grupos de ódio:

O mundo gamer é conhecido por ser reduto de vários grupos problemáticos, como incels, MRAs, supremacistas brancos, e outros grupos de ódio. Não são tomadas medidas efetivas para manter esses grupos sobre controle.

Possíveis soluções:

1. Não recompensar a violência:


Criar jogos aonde evitar a violência seja recompensado, e usar a força sem motivo seja punido ou pelo menos fortemente desencorajado.

2. Evitar a imersividade excessiva:

Criar jogos cujos mini-games e missões secundárias não desviem demais o jogador da missão principal. Limitar a imersividade a fins pedagógicos e de construção de enredo bem definidos.

3. Confiar na integridade das pessoas:


Criar jogos de código aberto, e com grandes possibilidades de customização por jogadores que queiram criar experiências novas. Flexibilizar fortemente a política de DRM, quando não acabar completamente com ela.

4. Mudar as práticas de trabalho:


Adoção de práticas de trabalho justas e humanas por parte da indústria. Evitar glorificar o comportamento workaholic e incentivar os colaboradores a buscar viver e trabalhar da maneira mais saudável possível.

5. Equilibrar o jogo:

Criar jogos que possam rodar em computadores mais antigos e menos potentes, para que as pessoas se acostumem com jogos tecnicamente simples, mas bem-feitos. Isso permitirá as pessoas mais pobres terem acesso a jogos da mesma qualidade que aquelas mais favorecidas, permitindo, dessa forma, que mais países e regiões consigam se tornar produtores de games.

6. Tornar os jogos odiosos para quem odeia os outros:


Parar de criar jogos que incentivem o machismo, o racismo, a homofobia e outras formas de preconceito. Quanto mais jogos humanistas e inclusivos forem produzidos, menos motivos os extremistas vão encontrar para se identificar com eles.''

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Resenha: Um Reino Unido


      Quem me recomendou esta obra foi meu pai, que já tinha me recomendado antes o não menos excelente ''Meu Nome é Dolemite''. O filme conta a história, baseada em fatos reais, do que seria o primeiro presidente da Botswana independente, o então príncipe herdeiro do protetorado britânico da Bechuanalândia, Seretse Khama, vivido pelo ator  brito-americano David Oyelowo. 
        Perto de terminar o curso de Direito em Londres, ele se apaixona pela bancária Ruth Williams(Rosamund Pike) e igualmente apaixonados, ambos decidem se casar, mesmo sabendo que isso encontrará oposição não só da sociedade britânica, como do próprio povo de Seretse, e do governo da África do Sul, que tinha começado a implementar a política do apartheid. Quando, já casados, ambos decidem ir para a terra de Seretse, que até então estava sendo governada por seu tio, ele consegue convencer seu povo a aceitar uma rainha de origem estrangeira e raça diferente, e Ruth logo consegue entrar nas graças de seu novo povo, apesar do tio de Seretse se afastar por desgosto.
      Além disso, o governo britânico, dependente dos minérios fornecidos pela África do Sul, se recusa a empossar Seretse como rei como seria previsto. Ele acaba sendo exilado na Grã-Bretanha, e deixa Ruth para trás, com medo de que o governo britânico os prendesse para sempre na metrópole caso ambos deixassem sua terra para trás. Após isso, se segue uma grande batalha legal e política, para Seretse conseguir reverter o exílio, e voltar não só para sua terra, como para sua esposa, que deu a luz a uma filha enquanto ele estava fora. 
       Não contarei o resto da história para evitar spoilers, mas o filme conta uma história de esperança num momento triste como o que vivemos, que conta a história não só de um líder que conseguiu lutar contra o racismo ainda antes de Malcom X e Nelson Mandela surgirem, mas também tornar seu país uma terra pacífica e democrática, um dos poucos países do Terceiro Mundo que, após se libertar dos seus colonizadores, não foi tomado por guerras e conflitos.

Aonde ver:

O filme se encontra disponível no catalógo da Netflix.

Resenha: ''Saúde: Mercado de Sucesso''


     O Dr. Tailan escreveu seu livro para quem deseja empreender no ramo da saúde, porém na verdade possui conselhos que podem ser úteis para qualquer pessoa que queira fazer um negócio ou projeto dar certo. Ele ensina de forma bastante didática os passos a serem tomados depois que o profissional termina sua graduação, e indica também os equívocos e maus investimentos que podem fazer ele ficar parado no tempo e espaço, sem progredir na sua carreira.

      Ele dá esses conselhos numa obra compacta, simples e direta, baseada na sua vivência pessoal como bio-médico e empresário. Um ponto a se destacar é a importância que ele dá a qualificação constante, para poder prestar aos clientes o melhor serviço e se destacar no mercado, que apesar de ter uma grande concorrência, costuma recompensar aqueles que buscam ser mais do que apenas mais um entre vários. Vi muitos paralelos da trajetória do Dr. Tailan como empreendedor com minha própria carreira no serviço público e na cultura, aonde aprendi através de tentativa e erro como ser um profissional e artista melhor. 

     A obra do Dr. Tailan busca ensinar justamente como evitar a maior parte dos erros, e progredir naturalmente para uma carreira estável e bem sucedida. Vi na obra dele mensagens muito semelhantes as encontradas em ‘’Quem mexeu no meu queijo’’ e ‘’A Estratégia do Oceano Azul’’, sob um novo ponto de vista. Ele guia o leitor através da luta pela realização profissional do mesmo jeito que o general Sun Tzu aconselha a guiar tropas para a vitória, em ‘’A Arte da Guerra.’’ Espero aplicar as lições passadas pelo Dr. Tailan em minha própria vivência, e alcançar, como ele, sucesso nos meus objetivos.

Como contatar o autor:

www.instagram.com/drtailanfroes/ (Instagram)

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Bolsonaro, Guerrilheiro e Revolucionário

                                    

       A esquerda comete um grande erro em relação ao Presidente da República, o Sr. Jair Messias Bolsonaro. Esse equívoco, bastante infantil por sinal, consiste em insistir em achar que o Presidente, após conseguir ser eleito para variados pleitos legislativos há quase 30 anos seguidos, eleger 3 filhos e variados apoiadores Brasil afora, vencer a última eleição presidencial, e passar incólume por vários escândalos e pedidos de impeachment, é um ser completamente imbecil, desprovido de qualquer réstia de inteligência. Sim, é inegável que além de não possuir nenhum refinamento e decoro, ele ainda se orgulha desse fato- mas isso está muito longe de não possuir inteligência.

     Na verdade, o Presidente possui um tipo muito específico de inteligência, o mesmo apresentado por figuras como Benito Mussolini, Joseph Stálin, Francisco Franco e Idi Amim Dada; um profundo senso de oportunidade política, um tipo de inteligência na qual o indivíduo inclusive se faz, propositalmente, ser enxergado como estúpido por seus adversários, que por sua vez, ao se enxergarem como seres muito inteligentes, o subestimam enquanto ele vai crescendo no nos bastidores e no submundo, até ser tarde demais para impedi-lo de conseguir o que quer. Os possuidores desse tipo de inteligência surpreendem aqueles que se recusam a enxergar seu paulatino avanço dentro das instituições, subvertendo-as a medida que vão se infiltrando nelas.

    Os arrogantes e destreinados apenas enxergam essa realidade quando ela, já completamente tomada, se torna irreversível. No caso específico de Bolsonaro, é possível dizer algo mais: ele aprendeu a ser revolucionário, enquanto a esquerda, por sua vez, se tornou conservadora. O leitor pode querer parar o texto nessa parte, mas peço que tenha paciência para continuar, e me permita explicar porque escrevo o que escrevo.

    Dentro de uma visão militar, revolucionário é aquele que se propõe a lutar contra uma dada ordem estabelecida, a partir de uma posição inicial de desvantagem, para através de uma conflagração revolucionária, mudar a ordem a seu favor. Conservador, por sua vez, é aquele que, sendo favorecido pela ordem estabelecida, deseja que tudo continue como está, ou evolua apenas no sentido de favorecê-lo. Desse ponto de vista, a esquerda então dominante poderia ser classificada como A Ordem, o establishment por excelência, enquanto o grupo formado por MBL, Lobão, Moro, Olavo de Carvalho, e o próprio Bolsonaro, eram La Résistance, os rebeldes contra essa dita ordem, que teria passado a dominar o Brasil a partir das eleições de 2002.

    Comparado aos outros guerrilheiros da direita, porém, Bolsonaro possuía uma vantagem: uma plena consciência, possivelmente ganha através de seu treinamento como oficial das FFAA, de que estava travando uma guerra cultural, ou disputa de narrativas, da qual sairia vencedor no longo prazo, graças a muita paciência e sangue frio. A vitória de Bolsonaro em 2018 se deveu justamente a utilizar estratégias tomadas de George Washington, Mao Zedong e Fidel Castro, estratégias que o resto da direita considera heresias e a esquerda desaprendeu a utilizar. Entre elas, estariam as seguintes:

1) Apenas desafie o inimigo para uma batalha campal, depois de tê-lo esgotado através da guerrilha e da subversão:

    Bolsonaro passou anos ajudando a desmoralizar a esquerda, através de sua atuação no Legislativo, mas só realizou uma ofensiva para o cargo executivo mais elevado, quando teve plena certeza de que poderia vencer a disputa.

2) Se alimente dos recursos do seu inimigo:

     Bolsonaro passou parte considerável de sua carreira em partidos da base aliada tanto do PSDB como do PT, recebendo repasses dos próprios operadores financeiros de seus dois maiores adversários. Isso gerava ainda maior vergonha para eles, por não poderem removê-lo do cenário sem receberem punições dos próprios partidos que constituíam sua base de apoio.

3) Converta os maiores apoiadores de seu inimigo nos seus soldados mais fanáticos:

     Um número não pequeno de apoiadores de Bolsonaro, consiste de gente que votava no PT ou em outros partidos de esquerda, não raro desde 1989. Essas pessoas, que eram defensoras fanáticas do PT e de Lula, se tornaram os apoiadores mais fervorosos de Bolsonaro. São pessoas que, desiludidas com a corrupção e decadência da esquerda tradicional, abandonaram seu antigo messias, buscando um novo profeta para tomar seu lugar.

4) Deixe os adversários e concorrentes se autodestruírem ou se matarem entre si:

   Foi o que aconteceu tanto como líderes progressistas, como Cristovam Buarque, Marina Silva, e o próprio Lula, como com aqueles vistos como conservadores, como Aécio, Alckmin, Moro, etc… Bolsonaro deixou todas essas figuras se desgastarem ou brigando entre si, ou com a Justiça e a mídia, enquanto mantinha sua imagem intacta. Dessa forma, dentro da direita e do centro, não existe possibilidade de surgir tão cedo alguém que possa tomar seu lugar, e a esquerda está dividida por disputas partidárias e ideológicas, sem se decidir por um líder capaz de desafiá-lo.

5) Demonstre força moral:

    Enquanto o campo progressista se deixou mostrar como imoral, depravado e corrupto, Bolsonaro construiu cuidadosamente para si uma imagem diametralmente oposta: a de alguém integro, correto, que se importa com os valores da família. Pouco importa se a imagem da esquerda se tornou manchada devido aos atos de uma minoria que não representa o todo, e que a imagem projetada por Bolsonaro não engane quem faz uma análise crítica de sua trajetória: é essa narrativa que foi vendida para a massa do público, e não irá se desfazer tão cedo. 
     Bolsonaro ainda possui, perante seus apoiadores, a imagem de alguém ingênuo e emotivo, que comete erros algumas vezes, mas que deseja honestamente fazer o bem. A imagem que o campo progressista possui, por sua vez, é a de um bando de pequeno-burgueses, corruptos, estrangeirados e afeminados, que disputam entre si para ver quem vai ter o direito de dilapidar e corromper o país quando voltar ao governo. 


      Por fim, esses cinco tópicos demonstram não só a razão da estratégia vitoriosa da campanha de Bolsonaro em 2018, mas também parte da motivação da posição dele no poder se demonstrar tão sólida mesmo havendo tanta oposição ao seu governo. Uma campanha progressista que queira superar Bolsonaro precisa, em parte, fazer o que ele fez: se voltar a um estudo sério dos líderes revolucionários, e líderes revolucionários diversos, e não apenas aqueles que a esquerda tradicional estuda ou finge estudar, para aprender como a construir uma narrativa que possa desconstruir a rede de mentiras e falsas verdades que o olavo-bolsonarismo construiu para chegar ao poder.
      Se trata de uma luta difícil, que envolve, em primeiro lugar, superar as próprias contradições no seio do campo progressista, mas que pode dar frutos num futuro não muito distante. Os americanos, dando ao mafioso e escroque profissional Donald Trump uma merecida derrota, já demonstraram que isso é possível. Além dos líderes já citados, o estudo de figuras como Sun Tzu, Saul Alinsky e Amílcar Cabral pode demonstrar o caminho certo. Quando se pararem de seguir líderes ultrapassados e modelos anacrônicos, talvez seja possível ao campo progressista reconquistar o espaço perdido.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Cordel A Jaguatirica e a Onça- Completo


Texto completo do meu cordel, A Jaguatirica e a Onça, editado em 2019. O deixarei em copyleft para quem desejar tirar cópias e revender ou distribuir, desde que não seja para reproduções em largas tiragens.Aqueles que desejarem uma cópia do arquivo para impressão, podem me pedir no meu Instagram: @nickvladimirins


A Jaguatirica e a Onça 

Por serem primos de raça

De vez em quando saíam

Para pegar uma caça

Para zoar com o primo

A Onça começou a pirraça:


João Tirica rapaz

Voce é mesmo o cara

Pra pegar coisa pequena

Eu num dia pego dez capivaras

Mas mico igual a ti não apanho

Pois meu peso quebra as varas


Onça Armando assim fez o ‘’elogio’’

João entendeu a safadagem

Porém se fez de abestado

Por gostar de molecagem

Já tinha o seu preparado

Pra se vingar dessas bobagens


A Armando ele respondeu

Que era melhor em tudo

E pra garantir ele apostava

O outro se fez de surdo

Achando que e ele era doido

De se medir com o bonzudo


Pra não passar por medroso

Aceitou a aposta absurda

Quem ganhasse era o bom

O outro cão de rua

E quem perdesse dos dois

Que fosse tomar... suco de uva


Os termos diziam

Que ao fim de dez semanas

Seria o caçador mais bacana

Quem trouxesse mais carne fresca

Pra medir com um pé de cana


Jogaram uma moedinha

Pra ver quem ia primeiro

Ganhou o Onça

Apesar de João ser trapaceiro

Armando comemorou

E se saiu ligeiro


No primeiro dia veio

Com ajuda de uma jamanta

Mandou descarregar tudo

Mais de mil quilos de anta

Outros mil de tamanduá

E falou que era só pra janta


Também foi assim

Nos outros seis dias

Armando se esforçando

E João nada fazia

Hospedado em sua casa

De sua caça ele comia


Chegando a vez de João

Ele só fez passear

Pra dizer que algo fez

Ele trouxe uma preá

Assim que botou na mesa

O bicho se pôs a andar


Todo o tempo foi assim

João não fazia nada

O outro pegava meia floresta

Com João na sua taba

Da última ele só trouxe

Amendoim e catuaba



Armando não gostou

Dizendo que contra a Bíblia ele agia

Trazendo fruta em vez de carne

Que nem Caim ele fazia

João se fazia santo pra ouvir

Esperando acabar a ladainha


Sabendo que João tinha as manhas

Armando a Dona Onça disse:

Vigia esse capeta pra mim

Maria Onça Clarisse

E ela falou pra ele

Que contaria o que visse


Armando andava estufado

Na semana final

Se gabava por aí

Se achando mesmo o tal

Mas o que o guariba disse
Tirou-lhe a pose de boçal


Onça Armando, homi

Você tome tenencia!

Pois não sabe o que tem

Em casa na sua ausência

Eu só vou dizer

Para você ter a ciência


É só você virar as costas

Que começa a festa

Eu mesmo me matava

Se me fizessem uma dessas

É sem você estar no lar

Que eles curtem a beça


João come a se fartar

De uma boa rabada

Que por sua bela esposa

É muito bem dada

E ainda chama os amigos

Pra deixar ela preparada


Armando aquilo ouvindo

Sabendo ser feito de otário

Gritou bem alto assim

Aquele salafrário!

Agora ele vai saber

Quem é mesmo aquele Mário!


Chegou em casa correndo

Parecendo um avestruz

Encontrou o primo no quarto

Suando que nem cuscuz

Quando viu ele disse

Tomei chá de mastruz!


Onça Armando gritou

Você saia daí

E num fique trepado

Que nem um sagüi

Se é homem desça

E venha logo aqui


E você Maria Onça

Sai de baixo de colchão

Que você é escolada

Mas não me engana não

Vou ensinar você

Que não sou nenhum Zelão!


Arrastou o primo pra cozinha

E disse pra Tirica

Agora seu miseráve

Você me explica

Porque me enganou

Tirando de minha marmita


Porém abriu a geladeira

E ficou surpreendido

A rabada estava lá

Que guariba bandido

O fez gritar com a esposa

Passando por mau marido


Ao primo João

Quis logo se desculpar

Disse que com a carne

Iria o recompensar

Mas que agora se armasse

Que um safado iam pegar


O guariba, coitado

Não pôde nem responder

Foi ele abrir a digiba

Pra o couro comer

Apanhou tanto nesse dia

Que tenho pena de dizer


Depois disso teve festa

Armando fez um churrasco

Fez em lembrança ao primo

Mesmo tendo o derrotado

Chamaram a floresta toda

Só o guariba não foi lembrado


Meses depois disso

Surgiu a novidade

Maria Onça pariu

E o povo falou com vontade

Metade da ninhada era dela

E do pai outra metade


Aqui acaba a história

Deixando um belo recado:

Se não vive de dedar

Faz bem ficando calado

Pra não ficar que nem o guariba

Que até hoje anda de lado!



domingo, 18 de outubro de 2020

O filme que inspirou o novo jogo do momento



     
   Numa comunidade de colegas do trabalho, vi referências ao jogo Among Us e fiquei curioso para saber sobre o mesmo. Pesquisei no site no qual gosto de pesquisar sobre produtos de mídia, o TV Tropes, e vi que no mesmo constava que o enredo do jogo, além de ser baseado na jogo presencial ‘’Werewolf’’, criado a partir de um jogo soviético chamado ‘’Mafia’’, também tem muitas referências de um grande filme dos anos 80: ‘’The Thing’, de John Carpenter, exibido aqui no Brasil sob o nome ‘’O Enigma de Outro Mundo’’, que por sua vez é baseada no conto ‘’Who goes there?’’ do autor John W. Campbell. 

Nesse filme, uma equipe científica americana na Antártida se depara com os restos de uma base norueguesa cheio de cadáveres carbonizados, em formas que mal lembram corpos humanos de verdade. O único sobrevivente da base são dois homens que tentam desesperadamente matar um cachorro, que eles recolhem, matando os dois homens achando que eles estavam loucos. Em pouco tempo, porém, eles descobrem que o cachorro é portador de uma forma de vida alienígena que toma as células de todas as criaturas vivas com as quais entra em contato físico- e cujos portadores são indistinguíveis dos seres normais, exceto pelo fato de que, quando cortados em pedaços, se subdividem em criaturas menores, que passam a lembrar cada vez menos as criaturas originais que infectaram. 

Surge então um clima de tensão na base, na qual ninguém consegue saber quem ainda é humano e quem é infectado, até os sobreviventes conseguirem um meio para discernir quem é quem, numa corrida contra o tempo para evitar que as criaturas consigam criar uma nave para irem para outros lugares do mundo, ou consigam se congelar num lugar seguro até uma equipe de resgate chegar, e sendo infectada por eles, propagar o ‘’vírus’’ que eles possuem para o resto do mundo. Enfim, um enredo bastante semelhante ao jogo que fez tanto sucesso recentemente. Acredito que o filme ainda está disponível na Netflix, aonde o vi originalmente. Vale a pena a assistida.







Redação CBMBA- Tecnologia

A tecnologia pode dar suporte a Segurança Pública numa questão bastante óbvia: diminuir a quantidade de pessoal administrativo e permitir co...