sábado, 30 de dezembro de 2023

1xy. Questões do mundo



Leia-se o excerto abaixo, sobre o cientista alemão Emil du Bois-Reymond:

‘’Em 1880, Emil du Bois-Reymond fez um discurso na Academia de Ciências de Berlim enumerando sete "enigmas mundiais" ou "deficiências" da ciência:

1. A natureza última da matéria e da força;

2: A origem do movimento;

3: A origem da vida;

4: Os “arranjos aparentemente teleológicos da natureza” (não um “enigma absolutamente transcendente”);

5: A origem das sensações simples (uma questão bastante transcendente);

6: A origem do pensamento e da linguagem inteligentes (que poderiam ser conhecidos se a origem das sensações pudesse ser conhecida); e

7: A questão do livre arbítrio.

Em relação aos números 1, 2 e 5 ele proclamou “Ignorabimus” (“nunca saberemos”). Em relação ao número 7 ele proclamou "Dubitemus" ("duvidamos")’’

Vejamos como estão as respostas para cada questão. Em relação a questão um, cada vez mais a física avança em descobrir partículas cada vez mais elementares, caminho que seguirão nas próximas décadas. Quando a teoria do Campo Unificado for completada, é possível que essa questão receba uma resposta final.

Em relação a questão 2, acredito que se relaciona com a questão um, ou talvez ele tenha falado da causa motora original que pôs em movimento tudo que se move no Universo até agora. Isso é algo que também poderá ser respondido quando a física avançar mais.

 Sobre a questão 3, da origem da vida, pelo que sei as especulações sobre formação de cadeias genéticas continuam avançando. Só não se sabe se a vida surgiu espontaneamente em nosso planeta, ou veio de algum meteoro após surgir de alguma maneira em outro lugar.

É uma questão que agora é especulativa, mas que no futuro pode se tornar um problema elementar. A questão 4 pode levar a todo tipo de interpretações, desde a Teoria Gaia a pensamentos teológicos, variando de acordo com o tipo de interpretação filosófica que se dê a ela. Tudo pode ter um motivo ou destino, ou não ter destino nenhum. É possível, por exemplo, ver filmes como Parque dos Dinossauros e Blade Runner, e acreditar que Deus e a Natureza tem uma vontade que vai além do que o homem deseja, ou perceber que desejamos ver padrões onde até existem certas leis e imperativos, mas também muita aleatoriedade.

A questão 5 se encaixa na questão da origem da vida e de suas interações. As sensações são importantes no homem porque são parte da maneira que ele forma julgamentos filosóficos, e por isso ele tem tanto interesse em conhecê-las e medi-las.

A questão 6 se encontra sendo respondida por biólogos, neuro-geneticistas, psicólogos evolutivos, e vários outros cientistas, que estudaram várias maneiras do porquê nosso tipo de inteligência se tornou vantajoso para nossa espécie.

A questão 7, do livre arbítrio, é de suma importância atualmente, porque define nossa personalidade e responsabilidade legal. Ao mesmo tempo que se está pondo em questão se o livre arbítrio existe ou é tão livre assim, sendo frutos de compulsões biológicas e pressões socioculturais, também se está questionando o quanto de nossa personalidade pode se manter diante de propaganda e vigilância pervasivos.

Assim, acredito que avançamos bastante em relação á época do sr. du-Bois, mas também estamos diante de uma nova fronteira, que temos que saber como atravessar.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Poema de Natal



Santa

Papai Noel e o Krampus,

Brincam de tira bom, tira mau,

Com as crianças do mundo

Papai Noel até mesmo aceitou

Que o NORAD usasse o nariz do Rudolph

Para calibrar a mira dos mísseis.

E até mesmo engordou,

Depois que deixou a Coca-Cola,

Usar seus direitos de imagem.

Ele é um bom trabalhador:

Em cada shopping que vai,

Recebe bem as pessoas,

Promete ler as cartinhas,

Depois pega o ônibus de volta,

Para sua vida de sempre.

Mas existe aí um segredo:

Há um mundo paralelo,

Em que é Natal no mês contrário,

E o Krampus é o cara bom,

Papai Noel o malvado.

Neste mundo ninguém fica reclamando

Que o Krampus Noel virou um deus pagão

E tomou o lugar do verdadeiro Deus

Ou que o que era pra ser uma festa sagrada,

Se tornou uma desculpa para encher a burra de chester,

E ficar travado de champanhe e de sidra.

As pessoas bebem até desmaiar,

Porque gostam de beber até desmaiar,

Bebem, desmaiam, acordam com ressaca e pronto.

Trocam presentes porque gostam de trocar presentes e ajudar a movimentar a economia e criar empregos,

E mandam fuzilar sem direito a apelação quem reclama

que não se deveria comemorar algo que não se sabe a data exata,

Porque todo mundo sabe que ninguém está nem aí para a data exata de nada,

E tampouco quer saber nem pesquisar se as festas são comerciais ou pagãs,

Porque o que interessa é comemorar estar vivo e não fazer auditoria nem historiografia.

Krampus Noel, quando desce as chaminés,

Não deixa carvão para as más crianças,

E doces para as boas:

Não deixa doces para nenhuma delas,

Porque doce dá cáries, e promove obesidade e diabetes.

Ele deixa, isso sim, com seus responsáveis,

Talões para trocar por sacos de carvão,

Pois há muitas famílias pobres,

Com pais seja maus seja bons,

Que não tem dinheiro para pagar pelo aquecimento.

Se uma criança manda cartinha pedindo

Por presentes mais caros que seus pais possam lhe ajudar a levar,

Ele manda uma resposta educada:

Você estava sendo bom porque é bom,

Ou estava se fingindo de bom,

Para fazer sua família se matar de trabalhar,

Para te dar um brinquedo igual ao de seus colegas de escola mais ricos?

Eles sabem que você não tem dinheiro para ir em Fernando de Noronha nem para a Disney com eles,

Então vale a pena fazer seus pais sofrerem

Para os outros meninos fingirem que te aceitam quando muito por duas semanas?

Peça um brinquedo que te faça realmente feliz e te permita brincar com as crianças de seu bairro.

Sua família já sofre muito para te manter na mesma escola depois de ter quase falido por causa de seu tio Gustavo, cujo filho, uma criança cretina igual ao pai, tem brinquedos bons porque a família dele rouba famílias como a sua.

Com amor, Krampus Noel.

Nesse mundo, nenhuma criança boa se acha melhor do que é.

As más, salvo casos de mau caráter congênito,

logo se esforçam para se tornar pelo menos razoáveis.

O nosso Papai Noel, lá,

não maltrata ninguém como se poderia esperar:

Ele é lá o que é aqui,

Mas quase ninguém o leva a sério,

O que o permite descansar para vir ao nosso mundo,

Exercer a bondade que vemos no fim de ano,

Nos shoppings, nos abrigos, nas sarjetas, e nas confraternizações corporativas.

Já o Krampus?

Para ajudar seu amigo Noel a ser bom,

Aqui faz o mal,

Para parecendo ser um fazedor do bem,

O outro ser o Papai Noel que gostamos.

Hohoho!

 

Nicolas Rosa

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Master of Orion


Minha primeira experiência com Master of Orion foi há alguns anos, quando eu, quebrado como sempre, procurava jogos gratuitos na internet. Achei uma alternativa que não era pirataria: um site de jogos abandonware, cujos direitos tinham sido há muito tempo deixados para trás para suas produtoras. Achei joias maravilhosas em meio a eles, inclusive o primeiro Master of Orion. Esse jogo foi um dos primeiros 4X, surgindo na época de Civilization e Sid Meier´s Pirates, que também tive oportunidade de jogar.

Ele rodava num emulador Dosbox, que o site também tinha para baixar. Cada seção de jogo era única. Você definia os parâmetros de uma galáxia, quantas raças haveria nela, e então o jogo gerava um cenário de acordo com isso, que variava ainda mais graças a eventos aleatórios que davam ainda mais sabor ao jogo.

Cada raça tinha características próprias, como talento para a espionagem, diplomacia no caso dos humanos, habilidade com naves, maior fertilidade etc. o que tornava o jogo meio quebrado era que ter avanços nas pesquisas dava vantagens enormes em quase todo o resto, o que fazia os Psylons saírem na frente em quase todos os cenários que estivessem presentes.

O que era comum a todas as galáxias geradas, e que na parte central de uma delas, haveria sempre uma nave superpoderosa, que atacava qualquer um que se aproximasse dela. Quem a tirasse do caminho poderia conquistar o planeta título do jogo, Orion, que tinha artefatos raros que davam vantagens ao seu possuidor.

O jogo fazia referências a várias obras de ficção científica nos nomes das armas e itens destravados à medida que se avançava na árvore tecnológica, quando se obtinham equipamentos capazes de destroçar armadas e planetas inteiros com poucos ataques. Antes de chegar a esse nível, porém, havia algo a se olhar: o jogo tinha uma interação política muito bem programada onde você realizava comércio e trocava tecnologias com outras raças, e um Senado Galático onde poderia se vencer o jogo sendo eleito líder da Galáxia.

Se você fosse eleito, vitória imediata. Se um rival fosse eleito, você poderia aceitar a supremacia dele ou tentar desafiar todo o resto da Galáxia sozinho, numa batalha bastante ingrata e com pouca chance de vitória. O primeiro MoO tinha algo um tanto pesado, devido ao fato de só ser possível conquistar planetas exterminando a população inteira presente nele.

Os títulos posteriores se tornaram mais complexos, adicionando além da possibilidade de criar raças novas, tomar populações diferentes ao seu Império, tendo que administrar seus diferentes gostos e inclinações. Eu joguei o novo MoO e não fui muito longe nele, achando o MoO antigo mais simples e direto.

Ele tinha algumas sacadas maravilhosas, a exemplo do cuidado com a ecologia. Ele possuía diferentes tipos de planetas a serem colonizados, alguns com mais minerais, outros intermediários, outros com uma natureza mais abundante. Os planetas com mais minerais possibilitavam uma indústria mais próspera, e os com boa natureza permitiam a população se multiplicar mais.

Quanto mais indústria você tivesse, mais créditos você teria para construir seu Império, mas a indústria gerava poluição que afetava negativamente a população, que administrava as indústrias. Você tinha que manter em cada planeta um equilíbrio entre produção industrial e cuidados ecológicos para possibilitar sua população e indústria crescerem ao mesmo tempo. Deixar essa relação desequilibrada ao ponto de se gerar poluição quase nunca compensava. Quando pesquisas eram realizadas, você podia investir em terraformagem que aprimorava os biomas de cada planeta, ao ponto de transformar desertos radioativos em florestas verdejantes com o tempo.

Era maravilhoso ver cada planeta evoluindo a ponto de poder receber sua população máxima, cheio de indústrias que não geravam quase nenhuma poluição. A relação com os outros Imperadores era algo que também se evoluía com o tempo: quase sempre compensava estar em boas relações para fazer comércio com todo mundo que se pudesse, mas a gente ia aprendendo que tinha tecnologias que não valia a pena trocar por nada porque davam a eles grandes vantagens em troca de muito pouco.

Quase igual a gente tem que fazer na vida real com outras pessoas. Resumindo tudo: o antigo MoO é uma experiência sem igual, que vale cada hora investida nele, pois é um clássico que não envelhece e tem muito a ensinar. Quer você queira aprender sobre gestão, quer sobre criação de jogos, quer sobre ecologia e relações políticas, jogar algumas partidas de MoO vão te mostrar que com simplicidade e solidez, se chega longe.







 


domingo, 3 de dezembro de 2023

Sobre Lampião e outras figuras


L: Gente, uma senhora, amiga de minha esposa, me presenteou com esse livro. Acho que ela quer me doutrinar. Alguém aí já leu?

D: Isso só pode acontecer em um país que ainda respira um pouco de democracia, se fosse um país com a ditadura explícita, jamais um livro desses seria publicado.

N: É uma questão espinhosa. A esquerda tenta construir uma narrativa fajuta em torno do cangaço e de Canudos, como se Lampião e outros cangaceiros fossem precursores de Che Guevara, e Canudos uma espécie de comuna socialista libertária.

L: Entendo a complexidade. Mas confesso que tenho um preconceito com esse cidadão: o fato de ter no currículo ''Os Pingos nos is'' e Olavo de Carvalho na lista de referências turva meu julgamento. Vou tentar ler, não sei quando. Depois comento por aqui.

N: Tipo man... vou te confessar: é literatura merda no estilo de Pondé. ''Guia babacamente incorreto de apontar dedo na cara da esquerda e dizer mitei'' O cara desmitifica Lampião, Conselheiro, Zumbi, Caramuru, etc... mas nunca vai deixar tocarem no Borba Gato e no Carlos Lacerda. É o tipo de critiquinha bem hipócrita e escrota, feita pra sulista se achar mais civilizado. Eu acho Lampião um m*rda, mas entendo isso como nordestino que não precisa dele tendo figuras melhores. Agora um sulista vir dizer isso eu mando logo se f%d#r.

L: O que acho temeroso é quando sentenciam, quando querem explicar uma situação complexa com simplificações.

N: A gente teve figuras como Jesuíno Brilhante, Cipriano Barata, Luiz Gama, entre outros, que ainda assim os sulistas iam falar mal se a gente exaltasse. Aí atacam Lampião porque sabem que nosso orgulho é ligado a ele. O problema pra eles não é o que Lampião fez, é a gente ser feliz com alguma coisa. Não dou atenção pra esses vermes. Se puder, pegue o livro e deixe de comprar papel higiênico por um tempo, se é que você me entende. Esse tipo de material só presta pra isso.

Resenha: O Império do Ouro Vermelho

Este livro, do jornalista francês Jean Baptiste Mallet, acompanha a moderna indústria do tomate, centrada em três países: Estados Unidos, It...