Eu peguei alguns livros num evento no Goethe Institut: ‘’A Questão Judaica’’ de Marx, e ‘’A Filosofia Universitária’’ de Schopenhauer. Não tive paciência para ler nenhum dos dois até o fim. Marx e Schopenhauer são dois indivíduos que morreram sozinhos por serem extremamente chatos e pedantes, e lendo essas obras deles deu pra ver o porquê.
Na ‘’Questão Judaica’’, além de atacar o próprio povo e a sociedade cristã que lhes negava direitos, Marx mais uma vez desautoriza todos os outros filósofos com exceção de si mesmo e seu patrocinador, e na ‘’Filosofia Universitária’’, Schopenhauer ataca impiedosamente os outros filósofos de sua época, chamando-os de pequeno-burgueses hipócritas, sem visão e incompetentes.
Em muito pouco dos livros eles fazem o que deveria interessar, propor as visões de mundo em que acreditam. Marx é herdeiro da tradição europeia e americana das disputas intelectuais, onde se fazem rinhas de galo para ver qual pensador terá direito de mandar no terreiro. Schopenhauer era movido por uma personalidade arrogante que o fazia não conseguir se encaixar em lugar nenhum por mais que tentasse.
Eles serem expulsos ou não serem bem recebidos nos lugares era mais culpa deles mesmos do que do ambiente- mas eles escreviam fazendo crer que era o contrário. No final das contas, os pensadores que eles atacaram acabaram sendo tão importantes para o desenvolvimento humano quanto eles mesmos, eles apenas não conseguiam compartilhar o espaço.
Quando você é um pequeno-burguês que diz obviedades e placitudes bem-comportadas é muito obvio que você não será grande coisa na posteridade, mas não existe necessidade de sair nos lugares maltratando as pessoas para ganhar um atestado de gênio.
Lobão, Olavo, e os meninos do MBL faziam isso e nunca foram candidatos sérios para a MENSA. Quando for buscar o conhecimento, se isso envolver ter que lutar por um ponto de vista, faça isso buscando uma vitória rápida e simples e não algo teatral como se estivesse no WWE ou no Mortal Kombat. Quanto mais espetaculares você fizer suas pretensas vitórias, mais audiência vai ter no dia de sua derrota.
De qualquer maneira, a filosofia que evolui através da controvérsia, tem o limite de só evoluir enquanto houver controvérsias. Se você aponta suas contradições internas, ou que ela serve a um modelo de pensamento que gosta de analisar os outros e criar vários obstáculos e exceções a ser também analisado, ela entra em parafuso e não se sustenta.
A grande verdade é: nenhuma filosofia nem visão de mundo se sustenta. Qualquer uma delas pode ser negada por si mesma se você forçar seu proponente a provar seus fundamentos sem usar as ferramentas que seus mestres doutrinaram. Cada doutrina faz apologia de si mesma tentando impedir uma análise honesta de suas motivações e do que traz medo a seus líderes.
Mas se a gente vivesse num mundo que nada valesse nada e tudo valesse nada, ninguém faria trabalho algum. Viver envolve ter que aceitar que um conhecimento imperfeito, ter que confiar nas coisas sem saber como elas funcionam, é melhor do que tentar conhecer tudo antes de fazer alguma coisa.
Essa mesma visão se aplica as variadas filosofias: elas são ferramentas imperfeitas, mas nos ajudam a entender o mundo sendo também imperfeitos. Se você buscar negar tudo antes de sequer aprender os fundamentos de uma coisa, será um bom polemista, mas um péssimo filósofo. Estará dominado por suas emoções e vontade de ser o galo no poleiro, mas não estará avançando muita coisa além de seu próprio ego.
Quando você busca a verdadeira evolução, o que você diz passa a ter um peso diferente- você passa a dizer em menos palavras algo que antes levaria parágrafos inteiros, deixa de disputar pelo que não é de seu interesse – passa a ter mais tempo porque valoriza o tempo que tem.
Alcançando isso, você estará em condições de fazer contribuições originais ao conhecimento humano, não mais movido pela arrogância, pelo ressentimento, e pela pior dos sentimentos, a falsa caridade. Cada fruto seu será leve e bom, como uma videira bem cuidada. Então poderá recolher os louros da realização.
E em tempo: esse próprio texto, como bem podem observar, não deixa de levantar uma polêmica contra Marx e Schopenhauer...
Nicolas Oliver