sexta-feira, 23 de abril de 2021

Resenha: HAMILTON, de Lin Manuel Miranda



Eu adquiri uma janela da Disney+ com um colega, e não me arrependi. Comecei a botar em dia os filmes da Pixar e da Marvel que eu perdi desde que a Disney saiu da Netflix e dos outros streamings, comecei a acompanhar The Mandalorian, e parei para ver, apenas por curiosidade, a peça ''Hamilton'', de Lin Manuel-Miranda.

Eu conheci parte da história de Alexander Hamilton, a personalidade retratada na obra, num livro americano bem velhinho que achei numa escola que trabalhava. Achei maravilhosa a semelhança da sua biografia com aqueleas do Barão de Mauá e Ferdinand de Lassale, duas figuras históricas que admiro muito.

Lin-Miranda consegue tornar interessante uma história que seria chata para os padrões atuais, imprimindo uma pegada pop as passagens da vida do político e empreendedor Hamilton- retratando sua vida desde que chegou as 13 Colônias, até seu envolvimento com a Revolução Americana, e sua brilhante, ainda que um tanto turbulenta, participação na formação do novo país que surgiu após a expulsão dos britânicos.

Assim, pode-se dizer que ‘’Hamilton’’ está entre os melhores conteúdos, de um streaming que já tem um acervo muito bom. Quem dispor seu tempo para assistir, não irá se arrepender.

domingo, 11 de abril de 2021

Reflexão sobre a Educação

Texto de um trabalho realizado na UNEB, no qual se pedia que se fizesse uma reflexão sobre Educação.


''Em todas as instituições de ensino que estudei e trabalhei, via uma contradição expressa entre a retórica progressista e a prática efetiva que elas realizavam. Nas escolas particulares, mesmo eles praticando uma pedagogia formalmente libertária, eu via os professores e funcionários tendo que trabalhar anos seguidos sem sequer terem reposição de inflação, e sem poderem fazer greves devido a isso porque sabiam que seriam demitidos na primeira oportunidade.

Na escola pública, por outro lado, eu via os piores professores e alunos, em todos os sentidos, serem justamente os que mais puxavam greves, ambicionando cargos na estrutura escolar e do movimento estudantil.

Eu via escolas que falavam em ‘’educação inclusiva’’, em formar o ‘’sujeito histórico-crítico’’, deixarem os alunos a mercê de professores e coordenadores que praticavam todos os tipos de abusos porque eles eram apoiadores da direção ou da reitoria.

Além disso, eles falavam sobre ‘’promover a saúde mental’’, e não faziam nada em relação aos alunos, professores e funcionários que entravam em colapso nervoso todos os dias devido a carga estressante de estudos e trabalho, sem contar o clima de perseguição aonde aqueles que fossem pegos no menor deslize sofriam processos e sindicâncias.

Ao mesmo tempo em que eles criticavam a ‘’educação bancária’’, faziam questão de exibir a quantidade de alunos que conseguiam mandar para os cursos mais cobiçados de faculdades importantes, não importando para isso que a vida social e afetiva dos alunos fossem totalmente destruídas no processo.

Isso me deixou com a impressão de que boa parte do que se fala na Educação é apenas retórica. Sim, acabaram as palmatórias, o rezar no milho, as cartas recomendando aos pais darem uma surra nos filhos por terem se comportado mal na escola.

Existem cada vez menos pais e professores que dizem que para o aluno que ‘’se ele não estudar, só vai servir para ser vigilante noturno, auxiliar de serviços gerais, frentista de posto ou para ser vagabundo. ’’ Esse é um ameaça psicológica que está tão manjada, que os filhos e alunos tendem a cair cada vez menos nela. O filho ou aluno podem simplesmente responder de volta: ‘’E o senhor, que estudou tanto, só conseguiu ser um assalariadozinho de terceiro escalão e vai morrer tendo uma aposentadoria medíocre. ’’

Hoje em dia, porém, é o próprio sistema que se encarrega de dizer isso as pessoas, através de um código moral que divide a sociedade agudamente entre os vencedores, que conseguiram responder com sucesso aos desafios da vida, e os fracassados, que por não conseguirem aguentar o peso das crescentes responsabilidades que surgem no mundo moderno, acabam sendo relegados ao desemprego ou as funções que os vencedores não desejam.

Apesar de toda a retórica igualitária e progressista, a escola é um dos espaços aonde essa lógica dos vencedores e fracassados se apresenta de forma mais contundente. Há os vencedores, que tiram boas notas, são populares tanto com os professores como com a maioria dos colegas e tem várias namoradas, e há os fracassados, que tiram notas ruins, os professores e colegas apenas toleram, e tem chances consideráveis de chegarem à idade adulta ainda virgens e sem ninguém.

Apesar de existir uma falsa ideia, difundida pela mídia, de que ‘’um dia os nerds é que vão ser os patrões enquanto os populares vão ser os empregados’’, quem já é excluído na escola dificilmente vai chegar longe na vida. Vão ter uma carreira profissional confusa e errática, uma vida amorosa e familiar marcada pela baixa auto-estima e pelos traumas da juventude, uma vida social pior ainda.

E nem mesmo aqueles que foram ‘’vencedores’’ na escola estão a salvo de sofrerem o mesmo destino, porque quando entrarem no mundo adulto, aonde sua popularidade da adolescência não tem valor, eles podem entrar num processo de angústia existencial para o qual não foram preparados, porque não foram forçados a amadurecer já na juventude.

A educação falsamente progressista, que alega ser libertária, mas não combate na raiz a dicotomia entre vencedores e fracassados imposta pela sociedade burguesa, é uma educação que serve apenas como reprodutora de mão de obra para o sistema, sob a falsa premissa de que estaria libertando o trabalhador ou o cidadão ao oferecer a  ele uma ‘’formação crítica’’, e ainda assim fortemente enviesada e partidária.

Essa educação só tolera críticas a classes externas a ela, como a alta burguesia, a classe média conservadora e aos empresários, pois quando se fazem criticas a sua relação promíscua com a política, sua visão pequeno-burguesa do mundo, ou os seus próprios pequenos privilégios, ela busca desqualificar cruelmente quem põe tais pontos em questão.

Caso aquele professor que surgiu no filme ‘’A Sociedade dos Poetas Mortos’’ fosse transportado para os tempos de hoje, ficaria surpreso como, apesar da educação ser muito menos repressiva do que a da época retratada no filme, ela permite existir um clima de crueldade mental aonde os alunos se matam de estudar sem terem garantias de que encontrarão bons empregos quando se formarem, e os professores, assoberbados de trabalho, literalmente se matam por não conseguirem encontrar uma razão para o que estão fazendo, porque não conseguem mais enganar os alunos com a promessa de um futuro radiante que não enxergam nem para si nem para os próprios filhos.

Por isso, eu acredito que para resinificarmos a Educação em relação ao clima de estagnação na qual ela se encontra, e criarmos um ambiente escolar aonde os alunos possam realmente se expressar como seres humanos completos e complexos, precisamos primeiro rever nossa própria visão de sociedade, e pararmos de sermos progressistas na retórica, e repressivos nas práticas efetivas que realizamos.''

O Negro no Brasil- Resenha

 


O excelente livro de Leandro de Assis aborda uma questão espinhosa para muitos: qual deveria ser o principal critério para definir quem teria direito ou não as cotas raciais, ou seja, se o critério deveria ser o fenótipo (cor da pele e outros marcadores físicos) ou o genótipo ( a autodeclaração feito pelos próprios interessados, por possuírem um ou mais ascendentes pertencentes as etnias desfavorecidas). Usando argumentos muito elegantes e inteligentes, embasados numa lógica e jurisprudência impecáveis, Leandro se posiciona como partidário da segunda opção.

O livro se inicia com um resumo histórico da situação do negro no Brasil, versando especialmente sobre a marginalização dos afrodescendentes após o fim da escravidão, levada a cabo através de politicas de branqueamento e de criminalização dos excluídos, o que acabou jogando os recém-libertos numa posição de miséria e subalternidade. 

Chegando aos tempos contemporâneos, quando as políticas de reparação começaram, Leandro busca argumentar que usar como critério de inclusão nessas políticas o fenótipo poderia gerar, por parte do Estado, uma nova violência contra aqueles que carregam todas as consequências dos anos de escravidão e discriminação, independentemente de sua aparência física mais evidente.

Embora o próprio autor não expresse isso, pode-se considerar que políticas de reparação baseadas no fenótipo poderiam promover o que poderia se chamar de ‘’apartheid politicamente correto’’, que fatalmente degeneraria numa espécie de supremacismo estético amparado pelo Estado.

A forma de se evitar isso seria a adoção do modelo do genótipo embasado na autodeclaração, que apesar de possivelmente permitir que pessoas com quase nenhuma ascendência negra a assumirem vaga destinadas a negros e pardos, evitaria o abuso de poder por comitês raciais que agiriam com um viés ideológico excludente.

Leandro conclui seu belo tratado conclamando que as leis que garantem o ensino da história da África, tanto nas aulas de História Geral como numa matéria criada especificamente para esse fim, sejam postas em prática, para que o orgulho pelo papel deste continente em nossa formação nacional venha a ser verdadeiramente valorizado por nossas novas gerações.

Caso tenha interesse no livro: https://www.amazon.com.br/Negro-Brasil-Hist%C3%B3rico-Desvantagens-Repara%C3%A7%C3%A3o-ebook/dp/B08WLFSQDG

Resenha: O Império do Ouro Vermelho

Este livro, do jornalista francês Jean Baptiste Mallet, acompanha a moderna indústria do tomate, centrada em três países: Estados Unidos, It...