sábado, 16 de novembro de 2024

Poema- Framing

Framing

Nicolas Rosa


O gato alertou minha noiva

Minha noiva convocou o homem da casa

Por acaso eu

Para exterminar o inimigo do lar

Penetrou nosso espaço aéreo, necessitando de extermínio imediato

Uma barata voadora

Me armei de nosso equipamento pessoal

Algo que numa guerra entre

Humanos 

Hoje graças a Deus é uma 

Arma de extermínio em massa

Convencionada de ser proibida de usar 

Mesmo entre os inimigos que mais se odeiam

Mas como ela é um ser que mesmo aqueles que se chamam de hereges e sub-humanos entre si

Odeiam igualmente

Tenho plena permissão

De usar essa Wunderwaffen 

Da indústria química

De forma similar como os romanos decretavam 

Que quando alguém era

Inimigo do Estado

Que quem o matasse ou fizesse sofrer 

Da maneira que fosse 

Além de não ser acusado

De nada 

Ainda poderia ser premiado 

Pelo grande favor

Que prestou a sociedade. 

Emiti vários jatos certeiros.

O aerossol era potente, cobria uma boa distância.

O invasor vacilou, perdeu potência, caiu no chão de outro quarto.

Se debatia, julguei a operação vitoriosa e disse que iria remover o inimigo neutralizado para descarte.

Meu apoio, segunda autoridade no recinto,
me armou de um chinelo para eu realizar um ataque de gravidade que garantisse a vitória.

Sem muita vontade, deixei o armamento cair sobre o inimigo, garantindo um abate total e completo.

Ele ou ela estava batendo quatro perninhas,
agora debatia duas ainda mais devagar.

Vitória total, vitória esmagadora.

Trouxe a pá de lixo, recolhi seu corpo para o zelador levar amanhã com o resto do lixo.

Tranquei o quarto para os gatos não lamberem as sobras de inseticida que possam ter ficado no chão.

Achei algo engraçado:

O inseticida tinha um cheiro agradável,
algo confuso entre limão, citronela e folhas do campo.

Não sei muito de química.

Poderia ser do solvente, do aerossol, ou de outra coisa.

Muito duvidoso que botassem aromatizantes nestes produtos.

Enquanto estava destruindo o inseto,
provavelmente estava absorvendo uma pequena carga do veneno, 

Que provavelmente me custariam alguns minutos de vida no futuro.

Quem trabalha muito tempo com essas coisas provavelmente deve ser um grande candidato a ter um belo de um câncer.

São fortes neurotóxicos, que destroem os nervos,

Impedindo os órgãos de funcionar 

E depois causando óbito 

Por asfixia, cessação de circulação

Ou falha de órgãos generalizada.

E tanto nós como as baratas temos sistema nervoso.

Li em algum lugar que baratas não sentem dor.

Elas podem perder pedaços,

Ter esmagada a maior parte dos órgãos

Porém aparentemente 

Não sofrem com isso

Tem consciência de que estão com uma parte a menos

Mas continuam a fugir ou a reagir

Até poderem escapar

Fazerem seu agressor fugir

Ou virarem um pedaço de gosma no chão ou parede.

"Ter sangue de barata"

É o verdadeiro segredo do

Que chamamos de heroísmo.

Heróis, como as baratas

Percebem a dor

Sabem que onde foram feridos 

Há veias, nervos e ossos

Que nunca voltarão ao normal

Mas seguem adiante 

Como se aquilo fosse nada.

As piretrinas e piretróides

Que são más com os insetos

E como promete o anúncio

Apenas contra os insetos

Exterminam as baratas.

O herói é herói porque a adrenalina, o ácido lático, 

E a desilusão que matariam as pessoas normais

O fazem sofrer,

Mas não conseguem impedi-lo totalmente

De tentar abrir caminhos, 

Fortalecer sua colônia, 

Ser o molde de milhares de bons soldados e operários

Enfim

Tudo aquilo que nós podemos

E os insetos não devem poder.

É proibido eles quererem montar casas em nossas casas

Roer a comida que conseguimos juntar, 

Depois de pagar os impostos

E merecer nossos salários e dividendos.

O cheiro primaveril ficou um bom tempo no quarto após a barata ter morrido.

Talvez não seja mais irônico uma arma de extermínio ter

aroma agradável

Do que um veneno mais mortal do que a naja indiana

Existir dentro de latas de milho com ervilha

Que esse veneno mostre sua face após a expiração da validade

E nós buscarmos esse veneno para tentar esconder nossa própria expiração

Graças a Deus há homens e mulheres que estão deixando os grisalhos aparecerem

Mostrando mesmo a quem tem como disfarçar o inevitável

Que isso não e estritamente necessário.

O que eles querem dizer é:

Amigo, 

você e rico e famoso, 

as pessoas não terão coragem de te ignorar e maltratar

mesmo que você deixe demonstrar que tem calvície e linhas de expressão igual aos pobres.

Eu admiro essa demonstração de leveza.

No dia seguinte, quando o cheiro de vida passou,

Acendi uma cigarrilha e admirei a Mata Atlântica pela janela.

Aquela sobra de selva estava vibrante,

A energia dos postes elétricos passava em linha reta ao redor dela, 

A energia dos seres vivos fluía dela para os prédios ao redor

Prédios do governo

E prédios e casas onde moravam quem alimentava aqueles prédios com seu trabalho.

Entreguei o lixo ao zelador.

Tinha a barata, sobras da areia do gato que chamou atenção para ela, embalagens, sobras de comida.

Cada andar tinha alguns apartamentos, 

o prédio alguns andares.

Cada um, 

jogava fora um ou mais sacos de lixo.

Duas vezes ao dia.

Aquele invasor, 

Aquele herói,

desceu no saco de nossa casa.

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