sábado, 2 de março de 2024

1xy. Quixote



1xy. Quixote

Eu conheci algumas pessoas que são como Dom Quixote. São cavaleiros de causas perdidas, eternamente lutando contra moinhos de vento. 

Quando militei no Rede, conheci um senhor, que tinha passado mais de 20 anos no movimento estudantil, e depois saiu dele para passar mais 30 nos movimentos sociais e ambiental. Ele tinha uma fé genuína em Marina Silva. Nós coletamos assinaturas juntos, para a fundação do seu partido.

Eu fui ver comícios de Marina. Num comício ela falou que Bolsonaro só fazia o que fazia porque Lula permitia ele estar na base aliada, e outro comício ela disse que Marcos Feliciano era mal compreendido por ser evangélico. Ao ser avisado disso, rasguei todas as fichas de assinatura e nunca mais fui numa reunião do partido. Fiquei sabendo que esse senhorzinho tinha saído em campanha para vereador, e outro membro do partido tinha pego os santinhos dele e escondido num galpão no fim da cidade. Nenhum dos dois foi eleito, com santinho ou não. Marina terminou de enterrar sua possível carreira apoiando Aécio. 

Outro senhor que conheci, era candidato a vereador desde pelo menos a época de Sarney. O politico que ele apoiava gostava muito dele, mas ele tinha um pequeno defeito: não fazia nem aceitava qualquer tipo de caixa 2 ou movimentação irregular de dinheiro, nem tampouco comprava votos. Seu próprio partido não o impedia de se candidatar, mas entregava a menor quantidade de santinhos possível no último dia possível. Evidentemente, isso não ajudava muito as campanhas dele a enfrentarem os candidatos mais bem financiados do bairro. 

Anos antes de conhecer esses senhores, quando eu era adolescente, conheci um técnico de conserto de geladeiras, que queria que eu propusesse a meus professores na escola técnica, a ideia de um motor que conseguisse girar para sempre sem nunca parar. Eu não entendia das leis de Newton, mas intuía que isso era impossível porque se fosse possível, alguma empresa já teria feito e patenteado. Toda vez que eu passava por esse técnico, prometia falar com os professores, e nunca falava até ele desistir. Ele provavelmente deve ter procurado outro jovem para tentar levar sua ideia. Que deve ter feito com ele a mesma coisa que eu fiz. 

O interessante é que essas pessoas não são pontos abaixo da curva: elas geralmente administram todo o resto de sua vida bem, mas tem uma mania específica que eles ficam teimando por mais que não vingue. Isso é a junção da esperança e do esforço, porém sem o método. O problema do método, é claro, é que ele acaba trazendo desencanto. O amador que é bom na liga amadora, talvez fosse menos feliz se não conseguisse alcançar o top 20 da liga profissional. Então, ele não abre os olhos para o desencanto, e permanece bom. 

Resenha: O Império do Ouro Vermelho

Este livro, do jornalista francês Jean Baptiste Mallet, acompanha a moderna indústria do tomate, centrada em três países: Estados Unidos, It...