A esquerda comete um grande erro em relação ao Presidente da República, o Sr. Jair Messias Bolsonaro. Esse equívoco, bastante infantil por sinal, consiste em insistir em achar que o Presidente, após conseguir ser eleito para variados pleitos legislativos há quase 30 anos seguidos, eleger 3 filhos e variados apoiadores Brasil afora, vencer a última eleição presidencial, e passar incólume por vários escândalos e pedidos de impeachment, é um ser completamente imbecil, desprovido de qualquer réstia de inteligência. Sim, é inegável que além de não possuir nenhum refinamento e decoro, ele ainda se orgulha desse fato- mas isso está muito longe de não possuir inteligência.
Na verdade, o Presidente possui um tipo muito específico de inteligência, o mesmo apresentado por figuras como Benito Mussolini, Joseph Stálin, Francisco Franco e Idi Amim Dada; um profundo senso de oportunidade política, um tipo de inteligência na qual o indivíduo inclusive se faz, propositalmente, ser enxergado como estúpido por seus adversários, que por sua vez, ao se enxergarem como seres muito inteligentes, o subestimam enquanto ele vai crescendo no nos bastidores e no submundo, até ser tarde demais para impedi-lo de conseguir o que quer. Os possuidores desse tipo de inteligência surpreendem aqueles que se recusam a enxergar seu paulatino avanço dentro das instituições, subvertendo-as a medida que vão se infiltrando nelas.
Os arrogantes e destreinados apenas enxergam essa realidade quando ela, já completamente tomada, se torna irreversível. No caso específico de Bolsonaro, é possível dizer algo mais: ele aprendeu a ser revolucionário, enquanto a esquerda, por sua vez, se tornou conservadora. O leitor pode querer parar o texto nessa parte, mas peço que tenha paciência para continuar, e me permita explicar porque escrevo o que escrevo.
Dentro de uma visão militar, revolucionário é aquele que se propõe a lutar contra uma dada ordem estabelecida, a partir de uma posição inicial de desvantagem, para através de uma conflagração revolucionária, mudar a ordem a seu favor. Conservador, por sua vez, é aquele que, sendo favorecido pela ordem estabelecida, deseja que tudo continue como está, ou evolua apenas no sentido de favorecê-lo. Desse ponto de vista, a esquerda então dominante poderia ser classificada como A Ordem, o establishment por excelência, enquanto o grupo formado por MBL, Lobão, Moro, Olavo de Carvalho, e o próprio Bolsonaro, eram La Résistance, os rebeldes contra essa dita ordem, que teria passado a dominar o Brasil a partir das eleições de 2002.
Comparado aos outros guerrilheiros da direita, porém, Bolsonaro possuía uma vantagem: uma plena consciência, possivelmente ganha através de seu treinamento como oficial das FFAA, de que estava travando uma guerra cultural, ou disputa de narrativas, da qual sairia vencedor no longo prazo, graças a muita paciência e sangue frio. A vitória de Bolsonaro em 2018 se deveu justamente a utilizar estratégias tomadas de George Washington, Mao Zedong e Fidel Castro, estratégias que o resto da direita considera heresias e a esquerda desaprendeu a utilizar. Entre elas, estariam as seguintes:
1) Apenas desafie o inimigo para uma batalha campal, depois de tê-lo esgotado através da guerrilha e da subversão:
Bolsonaro passou anos ajudando a desmoralizar a esquerda, através de sua atuação no Legislativo, mas só realizou uma ofensiva para o cargo executivo mais elevado, quando teve plena certeza de que poderia vencer a disputa.
2) Se alimente dos recursos do seu inimigo:
Bolsonaro passou parte considerável de sua carreira em partidos da base aliada tanto do PSDB como do PT, recebendo repasses dos próprios operadores financeiros de seus dois maiores adversários. Isso gerava ainda maior vergonha para eles, por não poderem removê-lo do cenário sem receberem punições dos próprios partidos que constituíam sua base de apoio.
3) Converta os maiores apoiadores de seu inimigo nos seus soldados mais fanáticos:
Um número não pequeno de apoiadores de Bolsonaro, consiste de gente que votava no PT ou em outros partidos de esquerda, não raro desde 1989. Essas pessoas, que eram defensoras fanáticas do PT e de Lula, se tornaram os apoiadores mais fervorosos de Bolsonaro. São pessoas que, desiludidas com a corrupção e decadência da esquerda tradicional, abandonaram seu antigo messias, buscando um novo profeta para tomar seu lugar.
4) Deixe os adversários e concorrentes se autodestruírem ou se matarem entre si:
Foi o que aconteceu tanto como líderes progressistas, como Cristovam Buarque, Marina Silva, e o próprio Lula, como com aqueles vistos como conservadores, como Aécio, Alckmin, Moro, etc… Bolsonaro deixou todas essas figuras se desgastarem ou brigando entre si, ou com a Justiça e a mídia, enquanto mantinha sua imagem intacta. Dessa forma, dentro da direita e do centro, não existe possibilidade de surgir tão cedo alguém que possa tomar seu lugar, e a esquerda está dividida por disputas partidárias e ideológicas, sem se decidir por um líder capaz de desafiá-lo.
5) Demonstre força moral:
Enquanto o campo progressista se deixou mostrar como imoral, depravado e corrupto, Bolsonaro construiu cuidadosamente para si uma imagem diametralmente oposta: a de alguém integro, correto, que se importa com os valores da família. Pouco importa se a imagem da esquerda se tornou manchada devido aos atos de uma minoria que não representa o todo, e que a imagem projetada por Bolsonaro não engane quem faz uma análise crítica de sua trajetória: é essa narrativa que foi vendida para a massa do público, e não irá se desfazer tão cedo.
Bolsonaro passou parte considerável de sua carreira em partidos da base aliada tanto do PSDB como do PT, recebendo repasses dos próprios operadores financeiros de seus dois maiores adversários. Isso gerava ainda maior vergonha para eles, por não poderem removê-lo do cenário sem receberem punições dos próprios partidos que constituíam sua base de apoio.
3) Converta os maiores apoiadores de seu inimigo nos seus soldados mais fanáticos:
Um número não pequeno de apoiadores de Bolsonaro, consiste de gente que votava no PT ou em outros partidos de esquerda, não raro desde 1989. Essas pessoas, que eram defensoras fanáticas do PT e de Lula, se tornaram os apoiadores mais fervorosos de Bolsonaro. São pessoas que, desiludidas com a corrupção e decadência da esquerda tradicional, abandonaram seu antigo messias, buscando um novo profeta para tomar seu lugar.
4) Deixe os adversários e concorrentes se autodestruírem ou se matarem entre si:
Foi o que aconteceu tanto como líderes progressistas, como Cristovam Buarque, Marina Silva, e o próprio Lula, como com aqueles vistos como conservadores, como Aécio, Alckmin, Moro, etc… Bolsonaro deixou todas essas figuras se desgastarem ou brigando entre si, ou com a Justiça e a mídia, enquanto mantinha sua imagem intacta. Dessa forma, dentro da direita e do centro, não existe possibilidade de surgir tão cedo alguém que possa tomar seu lugar, e a esquerda está dividida por disputas partidárias e ideológicas, sem se decidir por um líder capaz de desafiá-lo.
5) Demonstre força moral:
Enquanto o campo progressista se deixou mostrar como imoral, depravado e corrupto, Bolsonaro construiu cuidadosamente para si uma imagem diametralmente oposta: a de alguém integro, correto, que se importa com os valores da família. Pouco importa se a imagem da esquerda se tornou manchada devido aos atos de uma minoria que não representa o todo, e que a imagem projetada por Bolsonaro não engane quem faz uma análise crítica de sua trajetória: é essa narrativa que foi vendida para a massa do público, e não irá se desfazer tão cedo.
Bolsonaro ainda possui, perante seus apoiadores, a imagem de alguém ingênuo e emotivo, que comete erros algumas vezes, mas que deseja honestamente fazer o bem. A imagem que o campo progressista possui, por sua vez, é a de um bando de pequeno-burgueses, corruptos, estrangeirados e afeminados, que disputam entre si para ver quem vai ter o direito de dilapidar e corromper o país quando voltar ao governo.
Por fim, esses cinco tópicos demonstram não só a razão da estratégia vitoriosa da campanha de Bolsonaro em 2018, mas também parte da motivação da posição dele no poder se demonstrar tão sólida mesmo havendo tanta oposição ao seu governo. Uma campanha progressista que queira superar Bolsonaro precisa, em parte, fazer o que ele fez: se voltar a um estudo sério dos líderes revolucionários, e líderes revolucionários diversos, e não apenas aqueles que a esquerda tradicional estuda ou finge estudar, para aprender como a construir uma narrativa que possa desconstruir a rede de mentiras e falsas verdades que o olavo-bolsonarismo construiu para chegar ao poder.
Se trata de uma luta difícil, que envolve, em primeiro lugar, superar as próprias contradições no seio do campo progressista, mas que pode dar frutos num futuro não muito distante. Os americanos, dando ao mafioso e escroque profissional Donald Trump uma merecida derrota, já demonstraram que isso é possível. Além dos líderes já citados, o estudo de figuras como Sun Tzu, Saul Alinsky e Amílcar Cabral pode demonstrar o caminho certo. Quando se pararem de seguir líderes ultrapassados e modelos anacrônicos, talvez seja possível ao campo progressista reconquistar o espaço perdido.